O fim dos sindicatos “tradicionais”
Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati
Há algum tempo atrás previ o fim dos sindicatos “tradicionais”, no modelo em que existem. Não fico satisfeito com esta novidade pois os sindicatos devem existir e têm uma função, missão e um papel valioso no equilíbrio laboral. Mas desta forma irão acabar pois tornaram-se estruturas pesadas, pouco flexíveis, dependentes de subvenções estatais e financiamento público e que pararam no século XX. Por outro lado, o nosso tecido empresarial composto por micro e PMEs é tradicionalmente avesso ao sindicalismo. Acrescido pela fragmentação e pulverização sindical com baixa taxa de filiação em confederações, o que também não ajuda. Assim como o aumento das dificuldades na negociação coletiva, fator distintivo e justificativo da existência dos sindicatos. Mas o pior são os temas que defendem. Temas e interesses específicos, “redondos”, táticos e não estratégicos. Vemos portanto, alguns novos tipos de organizações do estilo sindical, quase movimentos de cidadãos a defender questões profissionais, a ocuparem o espaço dos ditos sindicatos tradicionais.
Em 1978 estavam sindicalizados mais de 60% dos trabalhadores e agora devem estar cerca de 15%. Quando em 1978 existiam cerca de 300 organizações sindicais fundadas e agora existem mais de 550 (segundo a DGERT). Ou seja mais cerca de 50% de sindicatos e menos cerca de 75% dos sindicalizados. Portanto estamos a assistir ao fim dos sindicatos como os conhecemos. Pois apenas sobreviverão os que participam na gestão e optimização dos resultados (como alguns sindicatos Alemães ou sindicatos e comissões de trabalhadores Portuguesas). Até porque estamos a assistir a uma nova revolução, depois da industrial e digital – a laboral! Os novos vínculos laborais são mais flexíveis e existem novas formas de contrato plural. O papel de free lancer ou trabalho temporário começam a aparecer. Ou seja estamos a assistir a uma forma de prestação híbrida não tradicional, assim como uma maior flexibilidade e amplitude de carreiras e desafios. Aparece cada vez mais o auto-emprego e auto-gestão, a remuneração mudou e é cada vez mais variável e menos fixa. Fundamental continuará a ser a hétero-motivação do colaborador (da responsabilidade da empresa), mas preliminar a necessidade de auto-motivação do mesmo (da responsabilidade do colaborador). Portanto os sindicatos e a representação dos trabalhadores deve ser estratégica e estes devem sentir que o sucesso da organização é o seu sucesso. Que a meritocracia deve ser o critério único de avaliação dos colaboradores, que os não produtivos devem abandonar a organização. O que acarreta uma responsabilidade forte para as entidades patronais, que devem partilhar e distribuir os resultados positivos das mesmas. E para os colaboradores, que devem ter “accountability” e devem estar interessados no sucesso da empresa e organização, em colaboração com a administração. Daí o papel estratégico das pessoas nas organizações.
A título de exemplo (e apenas vê os sinais quem quer), no dia 6 de dezembro uma notícia do Jornal de negócios referia que os “trabalhadores da Autoeuropa tinham rejeitado um anterior pré-acordo com a administração da empresa, após as greves parciais, de duas horas por turno, nos dias 17 e 18 de novembro”. Os sindicatos mantiveram estas greves parciais contra a vontade da Comissão de Trabalhadores (CT), que preferia retomar o diálogo com a empresa. Agora, “contra a vontade dos sindicatos, a CT aprovou um o acordo que prevê um aumento salarial de 5,2% (acima do objetivo da CT de 5%), com um mínimo de 80 euros por trabalhador, mas que, na prática, deverá ser de 100 euros para a maioria dos trabalhadores, que trabalham por turnos, e que, por isso, vão receber mais 20 euros no subsídio de turno”. Ou seja a participação na estratégia da empresa por parte da CT e a vontade de dialogar (mesmo contra a vontade dos sindicatos) mostrou-se a melhor estratégia.
Outro exemplo é no setor do ensino, com a paralisação das escolas, por tempo indeterminado, convocada pelo S.T.O.P. – Sindicato de professores. O 23º sindicato de professores que representa 1.300 docentes (em cerca de 150.000 existentes). Esta greve acontece numa altura em que o Governo está em negociações com os sindicatos. O S.T.O.P. contesta as propostas de alteração aos concursos e a descentralização de competências, no sector da educação, para as autarquias. Exige também a contabilização do tempo de serviço e a possibilidade de reforma depois de 36 anos de serviço sem qualquer penalização. Algo que os alunos e os encarregados da educação não compreendem, nem se calhar querem saber. Aliás muitos encarregados de educação queixam-se do prejuízo para os alunos devido à greve. Agora no mesmo período (14/12/2022) surge uma publicação de uma investigação (Health Behaviour in School-aged Children, HBSC/OMS) 2022) – que conclui que o gosto pela escola diminuiu nos alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, que continuam a achar a matéria demasiada aborrecida e difícil.. Há ainda 30,3% dos jovens que disseram não gostar da escola. Ou seja, os professores devem lutar pelos seus direitos mas também por uma escola em que os seus stakeholders se sintam felizes e satisfeitos (em linguagem financeira, com uma EBITDA positivo). E neste caso apenas estão a defender os seus interesses e não dos seus ditos “clientes”, os alunos! Ou seja, não parecem estar interessados no sucesso da escola e da motivação dos alunos. O que leva a que os alunos e encarregados de educação se desliguem da “luta dos professores”.
Em suma, neste formato, julgo que o fim dos “sindicatos tradicionais” está próximo, por culpa própria. E irão ser substituídos por novos movimentos de formação orgânica ou por sindicatos mais radicais que apenas terão o apoio de uma minoria. Até aqui, os “extremos” estão a ganhar força. Não há organizações sem pessoas motivadas e “accountable”, algo que os patrões, mas também os sindicatos nunca deveriam esquecer!