O conceito de posse está a mudar

Por Mário de Morais, responsável de Ride-hailing da Bolt em Portugal

Cada geração tem uma interpretação diferente do conceito de posse. Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a geração dos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) beneficiou de uma correlação entre o preço dos bens e os seus rendimentos. Isto foi bom porque cresceram numa época em que ter um carro ou uma casa era uma parte crucial da vida, ambos eram ritos de passagem que demonstravam a progressão da infância para a idade adulta.

Hoje, as atitudes mudaram. Depois da Geração X (1965 – 1980), cujas compras eram em parte motivadas por uma procura de estatuto, os millennials (1981 – 1996) centraram as suas compras em experiências e não em bens materiais, enquanto a Geração Z (1997 – 2012) vê as suas compras como um meio de expressão do seu verdadeiro “eu”. Estas mudanças geracionais no comportamento dos consumidores, combinadas com fatores socioeconómicos recentes como o aumento do custo de vida, o não-acompanhamento dos salários e os preços elevados dos imóveis, significam que as gerações mais jovens passaram a valorizar muito mais os bens digitais do que os bens físicos.

O sucesso de indústrias como o streaming ou o ride-hailing, e outros que tal, acessíveis nas pontas dos dedos através de telemóveis ou PCs, destaca bem o valor que os consumidores estão a colocar no ter acesso sempre que queiram a qualquer produto ou serviço digitalmente, ao invés de possuir algo fisicamente. Já há, inclusive, dados que corroboram isto ao nível da posse do automóvel particular: apenas 17% dos portugueses pretende comprar carro em 2024, indica o estudo Observador Automóvel 2024.

Para as gerações mais jovens, os custos inerentes à posse e manutenção de um automóvel, combinados com o desejo de tecnologia e serviços a pedido, tornaram as novas opções em evolução de ride-hailing, ride-sharing, micromobilidade, e as gradualmente melhores redes de transportes públicos, mais apelativas. O aumento do urbanismo, a sobrelotação de estacionamentos, o tráfego omnipresente nas cidades combinado com as atitudes das gerações mais jovens em relação à propriedade, significa que os serviços de mobilidade partilhada digital e a pedido, combinados com os transportes públicos, são e serão cada vez mais preferidos em relação aos carros particulares.

O fim deste “pico do automóvel” evidencia o facto de as gerações mais jovens estarem a tomar as rédeas ao futuro da mobilidade. Ainda faltará para que as cidades se adaptem a esta visão mais jovial e sustentável, mas acredito que a mentalidade que se tem instalado nas camadas mais novas é a certa para conseguirmos ter cidades feitas para as pessoas, e não para os carros.

 

 

 

 

 

 

 

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