O caso TSM

A preponderância do líder mundial no fabrico de semicondutores vem salientar a importância de diminuir a dependência do mercado face aos fornecedores críticos – aqueles cujo desaparecimento, ainda que temporário, representa um sério revés inclusive para a sobrevivência da nossa empresa.

Por José Miguel Baptista, head of Risk Management da Willis Towers Watson Portugal

Quando se fala na Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSM), associamos esta empresa a um dos líderes de mercado no setor dos semicondutores. Com uma receita anual de mais de 40 mil milhões de euros em 2020 e com uma capitalização bolsista a rondar os 500 mil milhões de euros (que lhe vale o décimo primeiro lugar na lista das empresas mais valiosas), a TSM é um dos gigantes deste setor.

Apesar de ser reconhecida com a mais valiosa empresa produtora de semicondutores, nem sempre nos apercebemos que os seus produtos estão, de facto, em todo o lado. Dos smartphones, tablets, computadores pessoais e consolas de jogos aos automóveis, passando por muitos outros equipamentos e dispositivos.

Ou seja, se no fabrico de algum produto há a necessidade de um semicondutor (dos mais sofisticados aos mais simples) é bem provável que se tenha de recorrer à TSM.

Assim, a TSM não é apenas uma das empresas mais valiosas do mundo, mas também um agente crítico na economia global, onde cada vez mais recorremos a semicondutores de maior complexidade.

Seja pela eventual falta de matérias-primas, seja pela crescente procura de semicondutores devido à aquisição de computadores (como resultado do teletrabalho e ensino à distância fruto da atual pandemia), seja pela crescente mineração de criptomoedas ou, tão-somente, porque cada vez mais utilizamos objetos que são suportados por semicondutores complexos, a realidade é que já começamos a constatar os efeitos de uma disrupção nesta cadeia de abastecimento.

Aqueles que têm vindo a tentar comprar uma consola de jogos da última geração podem testemunhar que tal tem sido praticamente impossível desde os respetivos lançamentos. Do mesmo modo, temos vindo a saber que fábricas de automóveis são obrigadas a reduzir a sua produção por força de não terem componentes necessários para o fabrico de veículos de acordo com o planeado. São apenas dois exemplos da atual dependência de semicondutores, entre vários que existem.

Acresce ainda que, no caso específico da TSM, esta está localizada numa zona geopolítica de conflito latente.

Diminuir a dependência

Consciente destes factos, pese embora a extrema dificuldade de desenvolvimento de novos agentes na área dos semicondutores (pois é um setor que requer financiamento elevado para conduzir os seus programas de Investigação & Desenvolvimento), as duas maiores potências mundiais – Estados Unidos da América e China – já iniciaram os seus planos para diminuírem a sua dependência de produtores internacionais de semicondutores.

Fazendo um paralelo com as realidades das nossas empresas, este exemplo deverá ser um mote para percebemos quais são os nossos clientes e fornecedores críticos; aqueles cujo desaparecimento, ainda que temporário, representasse um sério revés inclusive para a sobrevivência da nossa empresa.

Do mesmo modo, há que perceber quais são os produtos e processos críticos. Para efeitos de racionalização de recursos e otimização de custos, há que preparar uma resposta caso haja um evento crítico e essa mesma resposta deverá ter como alvo colocar a operação a funcionar no que de facto lhe é crucial, pois qualquer dispersão de energias conduzirá a um aumento do tempo de retoma da atividade, o que nalguns casos poderá ter efeitos nefastos.

Imaginemos o caso de um incêndio. Há que saber onde, de que forma e que produtos ter-se-ão de continuar a produzir para que o espaço de mercado não seja ocupado por concorrentes.

Neste exemplo, em concreto, há a perceção errada de que um programa de seguros de Danos Materiais complementado por uma apólice de Perdas de Exploração é suficiente. É crucial que haja o apoio de um programa de seguros bem desenhado, porém o mesmo só financiará as perdas sofridas nos trâmites da apólice; não minimiza a perda de quota de mercado nem os danos reputacionais sofridos.

A resiliência de qualquer organização deverá passar pela existência de um Plano de Continuidade de Negócio, formal e escrito, onde todos saibam o que e como fazer num momento de crise. Cada um tem de saber exatamente qual o seu papel para que não haja dispersão de recursos e para que a resposta seja adequada e efetiva. Como referido, esse momento de crise pode resultar num incidente na própria organização ou noutra que seja crucial para a sua atividade. Se em relação ao primeiro cenário poderá haver a convicção (por vezes errada) de que as causas para esses eventuais incidentes estão mitigadas, em relação aos segundos só observando o Plano de Continuidade de Negócio é que se poderá possuir uma perspetiva da resiliência dessa organização.

Em suma, o Plano de Continuidade de Negócio permite realizar as análises dos riscos de continuidade para identificar aqueles em que é possível mitigá-los e estar conscientes dos riscos em que tal não é exequível. Permite ainda fazer um levantamento objetivo do que é crítico para uma organização, racionalizar os recursos dedicados e otimizar custos e ainda aumentar a resiliência da empresa.

Por último, o Plano de Continuidade de Negócio permite às empresas verificar o seu grau de dependência perante terceiros e aumentar a sua vantagem competitiva perante concorrentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

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