Mulheres com uma palavra a dizer nas finanças pessoais

Por Rui Lopes, CEO Simplefy

A participação das mulheres nas decisões financeiras pessoais e familiares tem assumido uma importância cada vez maior. No entanto, e não há muito tempo, as coisas eram bem diferentes.

Historicamente, o papel das mulheres nas finanças foi muitas vezes limitado a gerenciar o orçamento doméstico e a cuidar das despesas diárias. Em muitas culturas, as decisões financeiras importantes eram dominadas pelos homens. A ideia de que a área da Economia e Finanças deveria ser reservada apenas aos homens perdurou durante muito tempo.

Com a evolução da sociedade, onde a igualdade de género passou a ser (e bem) um desígnio, a mulher passa a ter acesso a mais e melhor educação, conquistando uma participação mais relevante no mercado de trabalho. Embora alguns estudos indiquem que a diferença entre homens e mulheres em relação ao conhecimento financeiro esteja a diminuir, um estudo do Global Financial Literacy Excellence Center revela que, globalmente, apenas 35% das mulheres são financeiramente letradas, em comparação com 41% dos homens. Em Portugal, o panorama é ainda pior. De acordo com o estudo Mulheres e Finanças, da Mastercard, 55% das mulheres considera ter conhecimentos financeiros muito básicos ou nulos.

Apesar do progresso, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos quando se trata de finanças pessoais, como as diferenças salariais e as interrupções de carreira. Em Portugal, e segundo o INE, existe uma diferença de 18,7% entre o salário médio mensal de um homem (1.134€) e o de uma mulher (955€). A somar a isso, muitas mulheres interrompem as suas carreiras para cuidar da família (maternidade e apoio aos mais velhos), o que afeta a sua estabilidade financeira a longo prazo.

Segundo o Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras, Portugal é o 6.º país no mundo com maior percentagem de mulheres empresárias, um indicador que indicia uma forte vontade de mudança. A independência e a emancipação feminina têm um impacto direto na capacidade de as mulheres gerirem as suas finanças. Com independência económica, estas ganham maior controlo sobre as suas vidas e as suas decisões financeiras.

O nosso país tem assistido ao surgimento de vozes femininas de referência no contexto das finanças. Nomes conhecidos como Bárbara Barroso, com o seu MoneyLab, que tem sido uma propulsora na área da educação de finanças pessoais; ou Rita Piçarra, que nos ensina, com a sua experiência pessoal, como poderemos poupar para investir.

Existe ainda um longo caminho a percorrer. De acordo com dados de 2024 do Fórum Económico Mundial, serão necessários 134 anos, ou seja, o equivalente a cinco gerações, para se alcançar a paridade total de género. Mas as mulheres têm demonstrado que são perfeitamente capazes de gerir as suas finanças pessoais de forma eficaz e estratégica. Embora existam muitos obstáculos, o aumento da consciencialização e da educação financeira tem ajudado a empoderar cada vez mais mulheres e a que estas tomem as rédeas das suas finanças.