Mobilizemo-nos para a inclusão financeira em África

Por Maria Rosa Borges, Economista e Professora do ISEG

Um pouco por todo o continente africano, a utilização de serviços financeiros digitais está em claro crescimento. Estes serviços são, em geral, fornecidos por instituições bancárias, através de canais eletrónicos, como a internet banking, home banking, ATMs, POS, mobile banking, cartões eletrónicos, etc. permitindo a expansão da oferta dos serviços tradicionais, bem como, o seu alargamento aos clientes excluídos, pela via da inovação tecnológica.

A literatura existente neste domínio do conhecimento confirma esta tendência, apontando para diversos casos de sucesso nos países em vias de desenvolvimento, em que o uso dos serviços financeiros digitais, constitui um fator acelerador da inclusão financeira e do desenvolvimento económico. E, este fator é tanto mais importante, quanto é manifestamente baixo o acesso dos agentes económicos aos serviços bancários tradicionais. Dados estatísticos do Banco de Desenvolvimento Africano (BDA) (Financial Inclusion in Africa, 2013), apontavam para que, em 2013, menos de 25% da população africana tinha uma conta bancária numa agência formal e usava métodos informais para poupar e emprestar a amigos, família e empresas. Em contrapartida, a forte disseminação da utilização de telemóveis e smartphones e o seu uso como plataforma de acesso à internet, assim como a melhoria da rede de internet, têm permitido potenciar a utilização de serviços financeiros digitais nestes países.

Os serviços financeiros digitais oferecem diversas vantagens aos seus utilizadores. Ao aumentar a disponibilidade e a igualdade no acesso aos serviços financeiros: (i) estimulam o aumento da utilização destes serviços pela população menos servida por agências bancárias tradicionais, habitualmente residente nas zonas rurais, de mais baixo rendimento; (ii) mitigam a desigualdade de género no acesso aos serviços financeiros; (iii) e expandem o número de áreas de atividade económica que podem utilizar o largo espectro de serviços financeiros existentes.

A qualquer hora e em qualquer lugar, desde que exista rede de internet e um simples telemóvel, os agentes económicos podem aceder a estes produtos e serviços de forma fácil, rápida e a baixo custo, o que promove o aumento da sua utilização, reduz os meios informais de concessão de crédito e estimula práticas seguras e eficientes na prestação de serviços financeiros trazendo, inevitavelmente, consequências positivas à performance das economias.

Existem, contudo, algumas barreiras à inclusão financeira que importa realçar, nomeadamente os baixos níveis de literacia financeira, os elevados custos de serviços financeiros e a falta de infraestruturas bancárias, em particular nas zonas rurais.

Políticas que mitiguem estes constrangimentos são, por isso, essenciais para o aumento da inclusão financeira nos países africanos, nomeadamente, políticas que promovam a implementação de programas de formação sobre literacia financeira, políticas que incentivem uma cobertura nacional ampla e racional de agências bancárias e políticas que criem condições de bom funcionamento da rede de internet, estas últimas fundamentais para que, através dos meios digitais, se expanda a utilização dos serviços financeiros eletrónicos. O aumento da concorrência ligada à digitalização progressiva destes serviços e ao aparecimento de novos operadores no mercado incentivará o aparecimento de novas aplicações, novos processos e modelos de negócio que gerarão novas fontes de receitas aos que prestam os serviços financeiros e contribuirá para o abaixamento do custo destes serviços, com impactos muito positivos sobre a eficiência produtiva e sobre as finanças dos agentes económicos.

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