Menos sombras, menos mitos
Por Paulo Carmona
Em 2017, entre sombras de narrativas governativas a ocultar a crueza austeritária, brilhou Centeno, o Houdini que escapou do baú aferrolhado entre promessas despesistas e exigências de redução do défice.
Poucos acreditavam, o diabo diz-se que pairava, e teve a inesperada ajuda do Turismo, mas o mérito é seu. Passou em 12 meses de remodelável a estrela do Governo e da Europa. E lá foi escolhido, pela sua ortodoxia e obsessão pelo controlo do défice, pelos seus pares, para ser um dos chefes da Troika.
Verdade que no emagrecimento do défice, Centeno foi dos que mais se destacou. Infelizmente, não o conseguiu por um plano de alimentação equilibrado, exercício físico ou outras reformas mas, sim, pela fome. Cortando a fundo
na comida, ou chamemos-lhe cativações orçamentais, o Estado não emagreceu, definhou. O objectivo foi atingido, mas com efeitos secundários nefastos nos serviços públicos e nas funções do próprio Estado. Desde Teixeira dos Santos e os seus PECs, todos os ministros têm cativado, mas nunca como agora. E Centeno foi ainda mais longe ao suprimir a celebração de contratos plurianuais pelo sector público. Dessa forma, colocou em risco a manutenção das grandes infra-estruturas hospitalares, ferroviárias e rodoviárias que não pode ser apenas semestral, além de pagarmos um preço mais elevado no futuro.
Para 2018 desejo sinceramente que não aconteça nenhum azar por falta de manutenção e que haja mais debate na sociedade portuguesa. Há muita gente zangada à minha volta, evitando discussões, antes tomando silenciosamente a narrativa do Governo como um dogma, apesar de reconhecerem nela alguma intrujice e sobrar cada vez menos ao final do mês.
E que o antigo Bloco regresse em 2018. Antes os bloquistas protestavam por tudo e por nada e agora
estão calados por tudo e por nada. Nem uma palavra sobre despedimentos na CGD, os fogos, a degradação do serviço de transportes e sobre o injustificável assalto aos fundos de apoio social da Misericórdia para salvar mais um banco. E o voto de apoio ao seu próprio financiamento que… afinal era apenas para o consenso?
E, por último, que o Governo governe, sem fumos nem sombras, e que impeça o PC de destruir a AutoEuropa…
Este artigo foi publicado na edição de Janeiro de 201 da revista Executive Digest.