Maximizar as vantagens da IA: ir além do ‘hype’ e criar impacto nos negócios

Por Solange Sobral, Partner & EVP, CI&T

O lançamento do ChatGPT no final de 2022 marcou um ponto de viragem nas nossas vidas. Não foram apenas as suas capacidades tecnológicas que despertaram o interesse das pessoas, mas também o engagement global que provocou. Rapidamente, todos quiseram experimentar a Inteligência Artificial (IA) generativa, uma nova e poderosa ferramenta com imenso potencial para expandir a inteligência humana. No entanto, a par do entusiasmo, surgiu também o medo e a falta de compreensão sobre o verdadeiro impacto desta tecnologia – tanto positivo como negativo.

Esta não é a primeira vaga disruptiva por que passamos: outras tecnologias já tinham trazido mudanças transformadoras, como a Internet, os telemóveis, a Cloud e o 5G.  Tendo em conta o poder da IA generativa, e embora o seu impacto comercial ainda esteja a revelar-se, acredito que muito em breve o maior desafio vai passar a ser escalar as suas aplicações. A IA tem o potencial de resolver problemas complexos em todos os setores da nossa sociedade, desde a sustentabilidade ambiental aos diagnósticos de saúde, impactando as nossas vidas de forma muito positiva.

A chave para desbloquear este potencial e traduzi-lo em valor tangível requer uma mudança estratégica: as organizações têm de dar prioridade à IA, tornando-se o que chamamos empresas “AI-First”. Eis alguns pilares fundamentais para expandir a IA generativa numa empresa:

  1. Novos conjuntos de ferramentas e formas de trabalhar

O atual panorama empresarial exige mais do que ferramentas básicas. Para estarem à frente da concorrência, é crucial que as empresas invistam em plataformas e soluções de IA de ponta que podem capacitar a sua equipa para expandir conhecimentos, fomentar a criatividade, impulsionar a eficiência e proporcionar as melhores experiências aos clientes. A combinação de inteligência humana com artificial – ou, por outras palavras, aumentar as capacidades da inteligência de cada pessoa graças à IA – será a chave para escalar a IA generativa em todas as organizações, impactando os seus negócios, pessoas e clientes.

A IA generativa não vai apenas afetar as ferramentas que utilizamos no trabalho; vai também reformular drasticamente a forma como trabalhamos. Por exemplo, não sabemos como será o modelo Agile neste novo contexto; e vão também surgir novas estruturas de equipa proporcionadas pela IA generativa, para realinhar competências e gerar mais resultados. As empresas têm ainda muito a aprender e a evoluir neste domínio.

  1. Adaptar a cultura da empresa para adotar a IA

Quando as ferramentas, formas de trabalho e a IA generativa se unirem, vamos assistir a uma alteração da forma como as pessoas trabalham em muitas empresas e setores. Isto requer uma mudança de perspetiva, reconhecendo as ansiedades (como a potencial perda de empregos) e incentivando as pessoas a abraçarem a nova realidade que está a chegar.

É essencial contar com líderes disponíveis, próximos das equipas e que saibam comunicar de forma clara e honesta. Para além disso, apoiar as equipas de acordo com as suas necessidaes individuais e criar um ambiente seguro, aberto a novas ideias e que permita a descoberta, será fundamental para acelerar a adoção da IA nas empresas.

  1. Educação e formação para trabalhar com IA

Todos podemos tirar partido do poder da IA para melhorar as nossas competências e capacidades, preparando-nos melhor para um futuro de trabalho moldado por esta tecnologia. É crucial que as empresas preparem os colaboradores para a mudança, para que estes possam adaptar-se ao cenário em evolução e prosperar nas suas carreiras.

Recordemos, também, que a IA não é uma solução milagrosa por si só; requer conhecimentos humanos que possam extrair e aplicar o seu valor.  É importante preparar os colaboradores com as competências necessárias para aproveitarem todo o poder da IA.

Promover programas de formação interna garante que os colaboradores compreendem, utilizam e implementam soluções de IA com confiança, maximizando o impacto desta.  É importante fomentar uma cultura de adoção da IA, integrando ferramentas de próxima geração sem constrangimentos nos fluxos de trabalho diários. Também é interessante perceber como a abordagem “Learn by Doing” (aprender fazendo) pode acelerar a adoção.

  1. Ter uma estratégia de dados baseada em problemas ou oportunidades

Para tirar partido do que a IA generativa pode oferecer, é necessário que os dados da empresa estejam organizados. No entanto, não há tempo para esperar por um projeto de organização de dados de vários anos; é preciso organizar os dados desde já, mesmo que parcialmente, pensando no que é relevante para resolver o próximo problema ou agarrar a próxima oportunidade – e, claro, como a IA generativa pode acelerar o processo.

  1. Ter uma estratégia para adotar e escalar a IA generativa

Creio já ter deixado evidente que, para maximizar o impacto da IA generativa, é necessário fazer uma grande mudança – e, por isso, uma estratégia empresarial clara que inclua a IA.

É crucial refletir de forma estruturada sobre os riscos e oportunidades de negócio: por onde começar, como medir o progresso e como mostrar o impacto da jornada da IA generativa. A primeira prioridade pode ser, por exemplo, aplicá-la numa iniciativa interna ou numa nova experiência de cliente em que a IA generativa ofereça uma maior personalização. As oportunidades para melhorar a eficiência e evoluir a experiência de cliente são infinitas – mas é importante experimentar, avaliar e aprender com um pequeno projeto primeiro, antes de escalar a aplicação.

  1. Governação e segurança

Para garantir a utilização segura e ética da IA, é crucial estabelecer uma governação adequada. Isto inclui: a identificação das ferramentas de IA que podem ser utilizadas na empresa e como lhes aceder, medidas de privacidade de dados, conformidade regulamentar, considerações éticas e a gestão do enviesamento da IA durante o desenvolvimento. Estas medidas geram confiança dentro da organização e protegem-na contra potenciais riscos.

Ir além do ‘hype’

É, portanto, o momento de cada empresa elaborar um roteiro concreto para implementar ae IA de forma responsável e com impacto. Tornar-se “AI-First” requer uma abordagem estratégica e mensurável – pois, sem uma estratégia pensada, infelizmente as iniciativas de IA generativa podem consumir tempo e investimento sem retorno durante longo períodos.

As empresas têm de conseguir ver além do ‘hype’ para desbloquearem o verdadeiro potencial transformador desta tecnologia, criando um futuro mais eficiente, sustentável e inovador, para elas e para a indústrias onde atuam – e, em último caso, para a própria sociedade.

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