Mas, afinal, quais são os reais limites à construção de habitação em Portugal?

Por João Carvalho, partner e co-fundador da MELOM

A indústria da construção em Portugal depara-se com uma encruzilhada repleta de desafios, mas simultaneamente, rica em oportunidades. Num cenário complexo onde a escassez de mão de obra qualificada, a burocracia esmagadora e as dificuldades na obtenção de licenças delineiam o panorama, é imperativo analisar atentamente os caminhos a percorrer. A crise habitacional revela-se como um quebra-cabeças complexo, não suscetível de resolução num simples passo de magia, de um dia para o outro. Para superar estes obstáculos, é crucial que o governo e o setor privado atuem em conjunto, com celeridade e eficácia.

Na MELOM, atuamos essencialmente no setor de obras residenciais de particulares e notamos que existem neste mercado, essencialmente, dois fatores que contribuem para um arrefecimento da procura. A falta generalizada de mão de obra e o excesso de burocracia continuam a contribuir para o aumento da fatura de remodelações e atraso de obras de reabilitação, para além do contexto de incerteza que vivemos.

A escassez de mão de obra surge como um desafio monumental para o setor.  À medida que a procura por novas habitações aumenta, a oferta de trabalhadores qualificados não consegue acompanhar o ritmo. Profissões como pedreiros, eletricistas, canalizadores, pintores e estucadores são escassos e a formação destes especialistas torna-se uma necessidade urgente. Os jovens portugueses evitam estas profissões que proporcionam uma empregabilidade sólida e, em muitos casos com ordenados bem acima da média nacional, devido ao preconceito social. Revitalizar o ensino profissional torna-se imperativo para promover a profissionalização do setor e construir alicerces para um futuro sustentável.

A burocracia em Portugal, com regulamentos e processos complexos, continua a impor entraves e a comprometer o início e a conclusão dos projetos, prolongando o seu tempo de execução. As empresas enfrentam dificuldades em obter licenças, resultando em atrasos e perda de oportunidades de negócio, com impacto direto no preço final da habitação. Para vencer estes desafios, é crucial implementar medidas urgentes. A atração de investimento estrangeiro contínuo e um papel ativo do Estado, não só na regulamentação, mas também na promoção da habitação acessível, são estratégias-chave.

O setor da construção, longe de ser apenas um agente transformador de edifícios, é um propulsor fundamental do crescimento económico e do desenvolvimento sustentável do país. Superar os desafios na construção de novas habitações é essencial para garantir uma oferta adequada para os cidadãos portugueses. Com uma abordagem proativa e a implementação de medidas urgentes, Portugal pode transcender estes limites e alcançar um crescimento exponencial no setor da construção.

Estamos preparados para esta mudança de mercado, que antevemos para 2024, se reforçarmos a formação e prepararmos as nossas equipas para serem melhores num contexto com forte concorrência. Prevemos que o próximo ano será desafiante, uma vez que a elevadíssima procura por obras que temos registado tenderá a normalizar, fruto do contexto que vivemos hoje em Portugal, com menos transações de imóveis, maior incerteza, e que irão contribuir seguramente para um novo mercado menos agressivo no lado da procura. Ganharão os bons profissionais e, seguramente, os clientes.

 

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