Mais uma evolução no mercado de trabalho?

Atualmente, está a discutir-se a legislação das regras sobre o teletrabalho, nomeadamente o eventual pagamento pelas empresas de certos custos incorridos pelo trabalhador, entre outras condições de trabalho.

Contudo, os impactos do teletrabalho não se limitam ao que se está agora a discutir. Um aspeto que tem sido mais relevante nos EUA, mas que está a evoluir para outros países, é o crescimento da força laboral para além dos trabalhadores permanentes, passando a incluir mais trabalhadores “gig” / “freelancers” com elevadas competências, que começam a estar mais disponíveis através de plataformas digitais (uma espécie de “bases de dados”) de talento.

Um projeto da minha alma mater Harvard Business School sobre a Gestão do Futuro do Trabalho incluiu um inquérito a grandes empresas americanas, realizado antes do surgimento da pandemia, que surpreendeu pelo facto de que a grande maioria dos administradores destas grandes empresas considerava que, não só iriam usar essas plataformas, mas, mais surpreendente, que poderiam ser algo ou muito importantes para obter uma vantagem competitiva nos próximos anos.

Estas plataformas permitem às empresas o acesso a talentos que poderiam não conseguir contratar a tempo inteiro, contratando-os apenas para o período que pretendem, podendo eventualmente arrancar com projetos mais depressa, assegurando flexibilidade laboral. Há quem considere que aumentará a qualidade da inovação, mas creio que poderá ter também a dificuldade de os trabalhadores externos não conhecerem a realidade da empresa, o que poderá dificultar a implementação de certos projetos idealizados por esses trabalhadores.

Tenho algumas questões em duas áreas principais. Uma é se este modelo de mão de obra passará também a ser adotado por outras empresas para além de grandes multinacionais, E, se isso acontecer, em que moldes é que o modelo poderia ser alterado para outros segmentos de empresas. Olhando para o mercado americano, temos vários segmentos em termos de dimensões empresariais, desde as “gigantes” às microempresas, e deverá ser necessário estratificar este serviço e adaptá-lo aos diferentes segmentos.

A outra área é se este modelo terá sucesso em mercados laborais menos flexíveis e com maior proteção social. A rigidez do mercado e a proteção social existente em países como Portugal poderão ser entraves a este modelo. Para além disso, a sua eventual regulação também poderá ser um entrave.

Um tema a que voltarei mais tarde é qual o modelo de trabalho e cultura que poderão facilitar a maximização dos possíveis benefícios deste novo sistema.

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