Mais achas para o solar de concentração
Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros
Há uns dias abordei a questão da possibilidade de utilização da tecnologia do solar de concentração no mix energético nacional de forma a permitir complementar e aumentar a diversificação da produção de energia elétrica e/ou térmica. Foram discutidas, sucintamente, várias questões, mas bastante ficou ainda por dizer. Que, por considerar, pertinente aqui deixo agora ficar.
A produção de energia elétrica via concentração solar, abreviadamente designada pela sigla CSP do inglês Concentrated Solar Power, teve uma acentuada redução nos custos nos últimos anos. Uma análise muito recente feita por especialistas indica que o LCOE (palavrão que designa Levelised Cost Of Energy), ou seja o custo médio por kWh de eletricidade produzida ao longo do tempo de vida da instalação, entre 2010 e 2022 diminui de 591% acima da opção fóssil mais barata para apenas 71%. Mas ficou abaixo do meio da tabela em termos de custos das “fósseis” para 2022. Em valores absolutos diminui de USD 0,380/kWh para USD 0,118/kwh, uma diminuição de 69%.
Porém, nem só de LCOE “vive” a apreciação comparativa. Este parâmetro não entra em linha de conta com o perfil de produção da eletricidade das tecnologias, pelo que este valor pode ser diferente do preço médio de mercado. O CSP com armazenamento térmico (ver artigo anterior) possui a flexibilidade de poder focar essa produção em períodos de preço elevado no mercado da eletricidade, mesmo em alturas sem sol.
O sistema de armazenamento térmico é de longa duração e baixo custo comparativo. O armazenamento térmico médio das instalações de CSP aumentou entre 2010 e 2020 de 3,5 para 11 horas. Com custos cada vez menores, devidos a alterações tecnológicas dos fluidos de transferência de calor que permitem temperaturas mais elevadas. Como exemplo refira-se uma instalação muito recente (2021), no Chile, com uma capacidade de armazenamento de 17,5 horas!
Os Planos Nacionais de Energia e Clima (PNECs) de alguns países europeus apontam para o potencial de desenvolvimento de projetos CSP. Refira-se por exemplo o caso de Espanha e de Itália que preveem adicionar respetivamente à sua rede 5GW e 880 MW de capacidade de CSP até 2030.
Sem um apoio político forte, como têm tido, ou tiveram no início da sua implementação, outras tecnologias de produção de energias renováveis, veja-se o caso das eólicas, o mercado para o CSP será restrito. A acontecer, esse apoio político poderá fazer com que esses custos ainda sejam mais reduzidos, apesar da forte curva descendente existente.
Uma das vias poderá ser recompensar como serviço à rede a despachabilidade desta tecnologia assim como o seu contributo para a diversificação do mix de produção e a diminuição de riscos associados à dependência tecnológica (e já agora de materiais críticos) de algumas tecnologias energéticas com base em fontes renováveis.
Aqui ao lado, em Espanha, já estão lançados, e nós?