Liderança: Zelenski e Putin

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Liderança significa levar os outros a fazer aquilo que o líder pretende. Nem toda a liderança é boa ou positiva e a associação desta palavra a um sentido de inspiração artístico de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando de forma positiva mentalidades e comportamentos. Também existem os “maus líderes”, que como os “bons”, têm a função de unir os elementos do grupo, para que juntos possam alcançar os objetivos definidos. A liderança está relacionada com a motivação, porque um líder eficaz sabe como motivar os elementos do seu grupo. Seja pelos motivos errados ou até pelo medo. Naturalmente que um “mau” líder tem um ciclo de vida (felizmente) curto. Portanto as minhas ideias apresentadas a seguir têm como base este racional.

A Liderança de Zelenski é inesperada e surpreendente. Faz jus ao pensamento de que “por vezes são aqueles de quem não se espera nada, que fazem as coisas que ninguém espera!”. Ninguém “dava nada” pelo ex comediante Zelenski, todos esperavam que fosse um Presidente obscurecido pela máquina Russa. Mas não, demonstrou que dentro da sua humanidade é um líder inspirador. É um líder “Walk the talk” num dos seus mais ubíquos aforismos. Zelenski suporta o que diz não apenas com palavras mas com ações, está comprometido e está alinhado com as aspirações que transmite. Nem comunica de forma perfeita mas Inspirou um movimento mundial de simpatia e compromisso para com o seu desejo de independência face a “um monstro militar”. Poder-se-ia repetir a história de 2014 quando a Crimeia foi anexada, só que agora com Donetsk e Logansk. Só que na altura, havia um vazio de poder pois o anterior presidente fantoche Viktor Yanukovich tinha sido derrubado em fevereiro de 2013 e fugido para a Rússia. Aproveitando o vazio de governo, as autoridades da Crimeia, região de maioria russa, propuseram um referendo interno no território, que levou a região a juntar-se à Federação Russa. A liderança de Zelenski, inesperada diga-se, é afinal uma habilidade — inata ou adquirida — capaz de inspirar o mundo inteiro, influenciando as ações, decisões e comportamentos de maneira positiva. O momento fez de Zelenski um líder carismático que os Ucranianos querem seguir e dão a vida pelos seus ideais. Um líder que o mundo quer apoiar colocando os seus interesses individuais para trás das costas.

A Liderança de Putin é uma “liderança Darwiniana”, assente numa autocracia “Talk the Talk”, pois Putin pois não quer assumir riscos, manda outros assumir por ele. Faz jus ao pensamento de que “a guerra é um local onde jovens que não se conhecem e não se odeiam, se matam por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam”. Julgo que a liderança de Putin é muito semelhante ao “Autocrator” do império Bizantino que detém o poder supremo, absoluto, ilimitado e irresponsável com relação a qualquer instituição terrestre. A Rússia adotou a nomenclatura imperial de Bizâncio com o título de tzar (ou czar), mas também a sua substância de poder supremo. Portanto eu diria que é uma liderança nova, a “liderança Darwinista”. A lei do mais forte prevalece, portanto o medo inspira os restantes a seguir este líder que detém o poder da vida e da morte. Esta tipo de liderança surge quando alguém se perpetua no poder por períodos longos. É uma espécie de liderança precedida pela liderança autocrática. As características deste líder (ou ditador) são a arrogância, incapacidade de ouvir, incapacidade de empatia e insensibilidade. Repare-se que o ego é tão grande que Putin até na sua altura consegue mentir e convencer-se a exortar uma condição física que não tem,  pois refere que tem 1,75m de altura quando na realidade tem 1,70m.

Mas não se trata de um louco como Hitler no seu bunker ou Estaline na sua paranoia. Talvez represente um modelo muito adequado ao século XXI, mas de poder exageradamente e excessivamente acumulado. Adequado pois os movimentos extremistas estão a crescer e os desequilíbrios geopolíticos estão a emergir: com a emergência e unitarismo da China, o travão da ideologia Americana na Europa (que Trump estimulou), o desejo russo do Euroasianismo, o desnorte do Reino Unido (com o Brexit e o comportamento de Johnson), da França (com Macron a pretender ser reeleito novamente), dos EUA (com a saída algo “cobarde” do Afeganistão, a sombra permanente de Trump e o enfoque no mar da China), da Espanha e da Itália (com os equilíbrios e alianças políticas periclitantes de governo) e da Alemanha (que perdeu a “mãe” Merckle que tudo orientava). Tudo isto permitiu a Putin, líder Darwiniano, voltar a sentir-se o mais forte e tentar deixar o seu  lugar na história como o patriota que conseguiu o sonho da união da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Mas não deixa de ser uma liderança efetiva pelo poder que a suporta, e não precisa sequer de comunicar positivamente como Zelenski (basta ser eficiente e dar ordens), é um “Talk the Talk” (foge do risco), a responsabilidade é sempre dos outros, não motiva e não é flexível (não precisa pois é o único detentor da razão), sendo que apenas consegue ser autêntico como a única característica de liderança que conhecemos.

Estes 2 tipos de liderança não têm nada em comum exceto o momento apropriado para os líderes se revelarem: Zelenski na defesa da sua liberdade e Putin na loucura do seu desejo imperialista. Para mal e prejuízo do mundo, a de Putin tem-se vindo a revelar desde há muito, mas temos preferido “fingir” que não é nada com o mundo Ocidental. A aprendizagem maior deste momento é reconhecer as características deste tipo de liderança, impedir que ela evolua da autocracia para o “darwinismo”, sabendo como é perigosa para o mundo moderno de respeito pelos direitos humanos que queremos construir!

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