Inteligência Artificial em Portugal: onde estamos e para onde caminhamos?

Por Nuno Ruivo Responsável da unidade de Inteligência Artificial da Minsait, uma empresa da Indra, em Portugal 

É um facto inultrapassável que as empresas e organizações portuguesas terão de passar a integrar a Inteligência Artificial (IA) como eixo central do seu negócio, promovendo uma transformação cultural capaz de contrariar a resistência natural à mudança.

Para tal, terão de ser capazes de avançar com uma abordagem que combine duas linhas de trabalho complementares: por um lado a adoção de IA aplicada a casos de uso de impacto tangível e, por outro, assegurar o governo da IA, e que a transformação organizacional e operacional para este novo paradigma seja sólida e segura, garantindo ao mesmo tempo uma utilização responsável desta nova tecnologia.

Atualmente vemos o panorama nacional a duas velocidades, as empresas que já iniciaram este caminho de adoção da IA em casos concretos, e aquelas que ainda não deram o passo seguinte, o de avançar para os casos de uso reais.

No primeiro grupo, os dados recolhidos apontam a otimização de operações como o principal foco na utilização de IA: segundo os nossos dados, 90% das empresas procuram alcançar uma maior eficiência nas suas operações, como alavanca fundamental para melhorarem a sua competitividade. Outras motivações frequentemente citadas são o aumento das vendas (37%) e a melhoria da experiência dos clientes e utilizadores internos (32%). Estas empresas têm dado maior foco ao desenho de produtos e serviços (93%), seguido das operações de cliente e estratégia (85%), e também para os processos de vendas (80%). Estes factos permitem ainda assumir que, apesar do momento que se vive em torno da IA Generativa, a adoção de modelos de IA mais tradicionais, como modelos preditivos e de classificação, entre outros, continuam a ter uma relevância e aplicabilidade muito elevada na hora de responder a casos de uso ou a necessidades das organizações.

Por outro lado, as empresas que ainda não avançaram para a implementação da IA, o que referem como sendo a principal barreira à adoção plena de IA, é a ausência de um modelo de governo de dados e a respetiva gestão dos mesmos, e de infraestrutura tecnológica capaz de dar resposta aos temas de IA (39%). Ao nível global, 31% das empresas consultadas destaca a instabilidade da regulação como uma das grandes barreiras à implementação de mais casos de uso reais, que se pensa que, agora com a aprovação e entrada em vigor do EU AI Act, venha a mitigar os receios demonstrados pelas empresas. Outro elemento globalmente citado como um grande desafio nesta jornada de adoção de IA, é a ausência de profissionais qualificados com efetiva experiência nestas áreas tecnológicas (34%). Este atraso na adoção da IA ​​acaba por ser um impeditivo para que as empresas concretizem todo o potencial desta tecnologia disruptiva.

À medida que avançamos para um futuro cada vez mais digital e interconectado, a integração da Inteligência Artificial nas empresas portuguesas não é apenas uma opção, mas uma necessidade urgente para garantir competitividade e sustentabilidade a longo prazo. O panorama atual revela uma clara divisão entre aquelas que abraçaram a IA, e aquelas que ainda estão a explorar as suas potencialidades. Enquanto as primeiras colhem os frutos da eficiência operacional e da inovação de produtos, as últimas ainda enfrentam desafios significativos, desde a falta de modelos de governo de dados até à escassez de talentos especializados.

Para que Portugal se posicione como líder na adoção e aproveitamento da IA, é crucial superar essas barreiras com um compromisso renovado com a inovação tecnológica, o desenvolvimento de talentos e a capacidade de adaptação rápida às regulamentações emergentes. Investimentos em infraestrutura digital e governo de dados são imperativos para criar um ambiente propício à expansão dos casos de uso reais de IA, transformando não apenas operações, mas também criando modelos de negócio e melhorando a experiência do cliente.

Nos próximos anos, as empresas que souberem integrar a IA de maneira estratégica, terão maiores possibilidades de prosperar no mercado global cada vez mais competitivo e dinâmico. Portanto, é hora de acelerar o ritmo de adoção da Inteligência Artificial, capacitando os nossos colaboradores, trabalhando em projetos de pesquisa e desenvolvimento, e mantendo um olhar atento às tendências globais. Apenas assim poderemos garantir a nossa competitividade, e contribuir ativamente para o avanço tecnológico e económico de Portugal no cenário internacional.

Fonte dos indicadores apresentados: Relatório Ascendant 2023/204, elaborado pela Minsait com o tema “Inteligência Artificial: Radiografia de uma revolução em curso”.

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