Inovação e competitividade: o papel da IA nas empresas portuguesas

Opinião de Catarina Ceitil, Diretora de IT&Digital, Dados e Transformação da Galp 

 

O debate em torno da Inteligência Artificial (IA) tem decorrido essencialmente sob o espetro das ameaças associadas à sua crescente implementação em diferentes setores da sociedade e da economia. É natural que assim aconteça, se atendermos aos perigos que podem advir do uso pouco ético desta tecnologia em áreas como a desinformação. Quando nos deparamos com território desconhecido e desregulado, é apenas normal que as inquietações se imponham. E é obrigatório, sem dúvida, que enderecemos cada uma dessas potenciais ameaças.

Mas esse debate – essencial – sobre os impactos da IA não deve inibir-nos de colocar também na agenda dos líderes políticos e dos gestores empresariais o tremendo potencial que esta ferramenta pode ter para nos transformar positivamente, quer enquanto sociedade, quer no plano económico.

Num país como Portugal, acredito mesmo que a IA poderá assumir-se como um pilar central nas estratégias das empresas que queiram florescer à escala internacional: num contexto cada vez mais globalizado dos mercados em que nos posicionamos, esta tecnologia pode ser fundamental para impulsionar e acelerar a inovação e a competitividade do nosso tecido empresarial.

Tendo em conta essa perspetiva global – e a constatação de que concorremos, naturalmente, com players que têm acesso a outro tipo de recursos, sejam financeiros, de captação de investimento ou de dimensão do mercado – há duas áreas onde a IA pode assumir um papel crítico para esbater essas diferenças de escala.

O primeiro, é a capacidade de melhorar a eficiência operacional das empresas. A IA permite, por exemplo, automatizar tarefas repetitivas e complexas, o que abre a porta à redução de custos e ao aumento de produtividade.

O segundo é o potencial de apoio à criação de novos produtos e serviços inovadores, que atendam às necessidades dos clientes de forma mais eficaz e diferenciada, permitindo desenvolver soluções que respondam às necessidades específicas de cada empresa, tornando-as distintivas.

Da simples conjugação destas duas vertentes resulta que as empresas portuguesas que comecem a integrar a IA nas suas estratégias de desenvolvimento possam ter ao seu alcance uma vantagem competitiva sobre as empresas que se atrasem na adoção destas ferramentas. Sobretudo se também fizerem um trabalho interno de capacitação da sua força de trabalho, para preparar as equipas e os colaboradores para a integração eficaz de tecnologias baseadas em IA nos seus processos de trabalho.

Foi por estar ciente desta realidade que a Galp decidiu desenvolver um conjunto de pilotos para avaliar internamente o potencial impacto da IA generativa em áreas como a produtividade, qualidade do trabalho e engagement, quer através da adoção de “copilots” da Microsoft, quer através de soluções de OpenAI.

Há ainda um vasto caminho a percorrer para alcançarmos um patamar de maturidade na aplicação da IA aos nossos negócios. Na Galp, como seguramente em todas as empresas das mais diferentes áreas e setores. Mas avançámos com o objetivo de mapear e determinar as áreas e os processos em que as nossas diferentes equipas e unidades de negócio mais poderão beneficiar deste tipo de soluções. Nunca esquecendo também a premissa de validar simultaneamente o retorno do investimento associado a estas ferramentas.

De uma forma resumida, numa empresa como a Galp, antecipamos que algumas das áreas onde são expectáveis impactos positivos mais evidentes de tecnologias da IA se situem na geração e revisão de código, na gestão de pessoas (por exemplo no aumento de eficiência em processos de recrutamento), e na comunicação, com o imenso campo de possibilidades que se abre na área da criação de conteúdos, seja para as equipas de marketing e comunicação, nas relações com investidores ou na sustentabilidade.

Para que a incorporação de soluções de IA no roadmap das nossas diferentes equipas seja testada de forma consistente e faseada, entendemos também que este processo deve pressupor uma abertura crescente da Galp ao ecossistema de start-ups – como já ocorre através de programas como o nosso UpComing Energies –, com um foco particular nas empresas de tecnologia especializadas em IA. Com esse tipo de colaboração, poderemos partilhar know how, testar soluções e acelerar a inovação com base em soluções que permitam às duas partes um crescimento e um retorno sustentado.

Ler Mais