Indicadores de performance – inimigos ou aliados?

Por Mariana Alegre, Financing Team Leader na Natixis em Portugal

De que forma devemos nós, colaboradores de empresas e membros de equipas, olhar para os indicadores de performance (no universo corporativo, apelidados ‘KPI’, que vem do inglês ‘Key Performance Indicator’)? Serão eles nossos inimigos ou nossos aliados?

Nos tempos mais recentes, tenho observado uma espécie de repugna por parte de muitas pessoas em relação aos indicadores de performance. Além de indagar os motivos, questiono-me também se essas mesmas pessoas terão plena consciência das implicações de viver num mundo desprovido de ambição e de objectivos bem definidos. Seria espectacular viver num mundo onde não há quaisquer constrangimentos orçamentais – é, sem dúvida, uma ideia atractiva. Mas sabendo que existem essas limitações, gostariam os membros das nossas equipas que não houvesse qualquer tipo de comparação entre eles e que, em momentos de revisão de compensação ou de necessidade de reestruturar uma equipa, não houvesse qualquer critério objectivo e a tomada de decisão se baseasse em critérios puramente emocionais? A meu ver, levanta algumas dúvidas.

É também por estes motivos que acredito que todos nós, enquanto membros de equipas, em posições de liderança ou não, devemos olhar sempre para os indicadores de performance como aliados.

Os indicadores, sejam eles quantitativos ou qualitativos, permitem-nos compreender o que fazemos, como fazemos e o quanto nos dedicamos. Isto para que, ao mesmo tempo, consigamos ter a percepção de se há alguma tarefa onde estejamos a investir demasiado tempo, acrescentando pouco ou nenhum valor. Nesse seguimento, permitem-nos identificar mais claramente em que tarefas seria mais benéfico trabalhar em iniciativas de melhoria, no sentido de tornar as mesmas mais eficientes e o nosso trabalho mais interessante e valorizado.

Estes mesmos indicadores permitem-nos ainda avaliarmo-nos ao longo do tempo e identificar, novamente, competências-chave a desenvolver. Imaginemos um caso onde se verifica que os resultados de um indicador acabam por espelhar uma melhoria em tempo de menor pressão ou pico de actividade. Não devemos considerar uma conclusão positiva? Na minha opinião, sim, pois permite-nos claramente perceber que, se trabalharmos na forma como gerimos o stress, além de o reduzirmos, este poderá ter menor influência no nosso desempenho.

A meu ver, é importante não nos deixarmos estagnar e que o crescimento seja contínuo numa lógica de curva normal. Para isso, é de máxima importância que consigamos ter discussões abertas com os nossos líderes na definição de um plano de acção. Ou seja, os indicadores não são apenas relevantes para a tomada de decisão, pois devem servir de base para feedback constante e para o acompanhamento diário do desempenho das equipas.

É importante ressalvar que, obviamente quando olhamos para os indicadores, devemos fazê-lo de forma consciente e cautelosa. Isto porque estes têm um contexto limitado, por exemplo: se tivermos um robô que, ao iniciar uma tarefa, não está a funcionar correctamente, este mau funcionamento pode impactar negativamente os KPI, enviesando-os.

Não podendo de forma alguma descurar a componente humana, que é o principal activo de grande parte das empresas em Portugal, acredito que devemos mesmo complementar a análise dos dados com outros métodos, para que possamos ter uma visão mais completa e equilibrada do desempenho.

Por fim, em jeito de segunda ressalva, devemos lembrar-nos que além da performance dos colaboradores nas suas actividades, é fundamental fomentar o trabalho em equipa, estimular o design de ideias e encorajar o desenvolvimento das capacidades interpessoais.

Concluindo, deverão os indicadores ser tidos como valiosos para os colaboradores, empresa e equipas de gestão? Sim. Devemos trabalhar para extrair o máximo de informação dos indicadores que implementamos? Sem dúvida. Devemos analisar apenas os indicadores ignorando inputs qualitativos? De forma alguma.

Para terminar, desafio os leitores a idear os seus próprios indicadores – aqueles que para si e para as suas equipas são importantes – e a participar na definição dos indicadores mais relevantes para a gestão de topo das respectivas empresas. Verão, certamente, que com uma meta comum e bem definida, a organização estará um passo mais perto do sucesso.

 

 

Ler Mais