Imobiliário: Vão as proptech acabar com os recibos verdes?

Por Miguel Mascarenhas, CEO da imovendo

Os “recibos verdes” em Portugal têm sido objeto de muita discussão e crítica ao longo dos anos, devido aos desafios e dificuldades enfrentados pelos trabalhadores independentes que os emitem.

Mas infelizmente, vão persistindo alguns dos principais problemas que muito contribuem para o drama destes recibos no sector imobiliário em Portugal. A instabilidade financeira, a ausência de proteções sociais, a carga fiscal elevada e precariedade laboral.

Apesar de uma maior fiscalização (recente) da ACT, muitos argumentam que é preciso uma maior proteção e segurança para os trabalhadores independentes no país, em especial aqueles que dependem das vendas de casas para a sua subsistência, sendo que, a maior parte, vende apenas uma casa por ano e divide a comissão da sua venda com outros intervenientes da agência.

O mercado imobiliário em Portugal tem sido historicamente um setor onde muitos trabalhadores optam por trabalhar como independentes, e, por isso, recorrem ao recibo verde. Isto ocorre essencialmente pela flexibilidade que permite uma adaptação à natureza do negócio, pelas comissões que permitem maximizar os ganhos potenciais no momento de venda, pelo crescimento do mercado imobiliário que gera mais oportunidades para quem pretende ser consultor como 2º emprego e pela ausência de necessidade de formação específica.

É importante notar que, como o mercado imobiliário pode ser altamente competitivo, os consultores precisam de ser habilidosos na gestão de seus negócios e na criação de redes de contactos que permitam vender um número suficiente de casas, garantindo o rendimento a longo prazo.

O surgimento das empresas Proptech, que aplicam a tecnologia no setor imobiliário, tem o potencial de impactar significativamente a estabilidade laboral no setor, graças sobretudo a uma diferente ordem de fatores:

Automatizam processos operacionais e administrativos, reduzindo em muito a mão de obra nas tarefas rotineiras. Logo, diminui-se a procura por determinados tipos de trabalhadores, especialmente aqueles envolvidos em atividades de baixo valor agregado, como inserção de dados e gestão de documentos;

Como plataformas de compra e venda online, são modelos disruptivos que podem criar oportunidades para alguns consultores imobiliários;

Com aumento da eficiência, permitem facilitar processos e reduzir os custos operacionais das imobiliárias, o que pode, por sua vez, melhorar a estabilidade laboral, ao permitir que as empresas cresçam e criem mais empregos;

Graças à tecnologia, aumenta a procura por profissionais com skills informáticos, como os especialistas em análise de dados, marketing digital e desenvolvimento de aplicações;

O aparecimento destas novas Proptech no mercado imobiliário nacional, a competitividade aumenta entre os palyers tradicionais, gerando uma pressão adicional sobre a estabilidade laboral, à medida que as empresas lutam para, também elas, se manterem competitivas.

Em suma, estas plataformas digitais podem impactar a estabilidade laboral no setor imobiliário português, restando apenas a hipótese de sabermos abraçar esta mudança e encarar com naturalidade o futuro, em prol da segurança de todos os intervenientes no mercado imobiliário e em prol da habitação em Portugal.

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