IA Generativa e as oportunidades de negócio: muita uva, pouca parra

Por Simão Policarpo Nogueira, AI Catalyst da Critical Software

Para percebermos de que forma as organizações estão a capitalizar a Inteligência Artificial Generativa (GenAI), é importante olharmos com atenção para a cadeia de valor deste domínio. A estrutura da tecnologia, em linha com a análise dos gigantes da consultoria e benchmarking como a QuantumBlack, o braço AI Consulting da McKinsey, começa no hardware, a infraestrutura física que a suporta; segue para os modelos fundacionais, como o GPT-4 da OpenAI e o Llama 3 da Meta; passa pela camada de tooling e software, as ferramentas utilizadas para interagir com a tecnologia através da cloud ou nos próprios computadores; avança para as aplicações e produtos construídos com IA; e termina com a prestação de serviços, que integra a tecnologia nas organizações.

A mesma análise da consultora revela que a perceção de oportunidade de negócio cresce ao longo da cadeia de valor, sendo que a métrica atinge o seu apogeu no segmento de aplicações e produtos, mas diminui na prestação de serviços. Contudo, esta visão aparenta ser contraditória, já que um artigo do New York Times prevê que 40% do volume de negócios da McKinsey em 2024 será atribuído à GenAI. E, de facto, as grandes consultoras estão a conseguir resultados extraordinários ao ajudar as organizações a entender e implementar essa tecnologia, mesmo num mercado desacelerado e com grandes ondas de despedimentos no último ano. Mais uma vez, destaca-se a contradição.

Além disso, é importante fazer a distinção entre a categoria de produtos originalmente baseados em GenAI e aqueles produtos existentes aos quais adicionam funcionalidades de GenAI. Embora seja discutível se a segunda  subcategoria indicada deva ou não caber dentro do segmento serviços, com esta distinção encontramos justificação para um fenómeno cada vez mais recorrente: produtos construídos com base na tecnologia, mas sem valor técnico significativo, tendem a falhar devido à complexidade e custo de manutenção.

Não sendo esse o único aspeto relevante para a discussão, estes produtos são tipicamente fracos do ponto de vista da propriedade intelectual – replicando modelos de negócio e funcionalidades já existentes noutros produtos-, com o handicap de partirem do ponto zero nas corridas para a construção de reconhecimento de marca e base de dados de utilizadores. Em contraste, empresas com produtos próprios que adotam GenAI conseguem tirar um maior partido e acrescentam valor para os clientes além de responderem às tendências das inúmeras indústrias que a tecnologia promete impactar.

No entanto, este indicador de oportunidade não falha apenas nas fases finais da cadeia de valor. O crescimento da NVIDIA nas últimas semanas, agora uma das empresas mais valiosas do mundo, mostra a importância do hardware, mas não identifica oportunidades para novas organizações.

Para entender como os segmentos iniciais de hardware e infraestrutura estão a ser abordados, olhemos para as startups. Nesses casos, o volume de negócios nem sempre reflete a complexidade do sucesso e do crescimento. Embora seja difícil aceder a capital e recrutar talento altamente especializado, empresas como a d-Matrix, SiMa.ai, Untether AI e Groq estão a receber centenas de milhões de dólares em investimentos para desenvolver hardware que compete com gigantes como NVIDIA e AMD. Sem esse capital, seria impossível criar alternativas ao monopólio atual do poder computacional, o que mostra a oportunidade de investir em novos e promissores mercados de hardware.

Posto isto, é nos extremos da cadeia de valor que se encontra a relevância da GenAI. No centro, onde o hardware e o software se encontram, o código-fonte aberto e as comunidades especializadas dificultam a captação de valor. Quem vende hardware tem interesse em oferecer o software gratuitamente, e quem vende produtos tende a incluir o custo dos modelos fundacionais no preço final. Essa dependência entre os segmentos intermédios dificulta a entrada de novos operadores no mercado, mas torna óbvia a oportunidade que as consultoras e empresas de produtos já estão a perseguir com muito sucesso:  oferecer serviços e funcionalidades específicas, em vez de se concentrar apenas na tecnologia.

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