Hoje são eles, amanhã seremos nós

Por Ana Côrte-Real, Professora Associada da Católica Porto Business School, consultora e Coach

Hoje são eles, os nosso Velhos, amanhã seremos nós, seremos Velhos. E como seremos tratados? E como será que a nossa empresa irá gerir o nosso envelhecimento? E como será se ficarmos doentes?
Qual o papel do estado, das empresas, das famílias, da sociedade com os velhos?  É desde logo importante salientar que cuidar dos idosos não pode ser tarefa exclusiva do Estado. Todos, famílias e outras instituições, bem como cidadãos em geral, devem partilhar, com dedicação, a responsabilidade de garantir aos idosos a manutenção da sua dignidade de pessoa até à sua morte.
Um dos importantes debates na gestão das empresas é exatamente como é que estas instituições gerem as carreiras dos seus colaboradores. Será que há prazos prévios para os colaboradores serem descartáveis muito anteriores à reforma?
Na verdade, assistimos a práticas discriminatórias, quase sempre pouco explícitas, entre os empresários, suportadas em perceções muitas vezes erradas, acerca das capacidades e competências dos seus colaboradores mais velhos. Assistimos a um afastamento destes trabalhadores do mercado de trabalho ou das possibilidades de desenvolvimento que são oferecidas a outros grupos etários. Quais as políticas das empresas relativamente a estes trabalhadores? Como assegurar aos mais velhos que possam continuar a trabalhar à medida que envelhecem, numa abordagem integrada e colaborativa entre os vários agentes económicos incluindo ações do serviço social?
Qual a capacidade das empresas em fazer do contacto dos colaboradores mais velhos com os mais novos, fonte de sabedoria, de aprendizagem coletiva e de criação de uma cultura organizacional mais sólida e humana? Confesso que considero que o crescente número de Mulheres em cargos de liderança poderá vir a fazer a diferença.
E se para além de sermos velhos nos tornarmos pessoas doentes? Qual a sentença?
É precisamente neste campo que não posso deixar de mencionar o trabalho das Associações. Sei que há muitas. Mas vou destacar a Associação Palhaços d`Opital, por ser a que melhor conheço, por perceber a sua atividade e o seu impacto. Uma das poucas Associações do mundo que não parou as visitas aos hospitais durante a pandemia. Contexto que acabou por reforçar a “desculpa” para abandonar os velhinhos doentes nas camas dos hospitais. Esta Associação não é uma organização de Doutores Palhaços, é uma organização para a valorização e dignificação da Pessoa Mais Velha. Da pessoa, que se correr bem, todos nos tornaremos.
Como podemos deixar de nos emocionar ao perceber que após a visita dos Doutores Palhaços a perceção da dor dos doentes idosos diminui?
Mas… esta Associação, como todas as outras, precisa de apoios, precisa da solidariedade das empresas e da sociedade em geral. E nós, todos nós, precisamos de contribuir para que o envelhecimento não seja pior do que a vivência de uma doença. Precisamos de contribuir para a dignidade do ser humano.
Termino com as palavras do Papa Francisco na encíclica Tutti Fratelli, sobre a fraternidade e a amizade social (n. 11): «…isolar os idosos e abandoná-los à responsabilidade de outros, sem um acompanhamento familiar e adequado e amoroso mutila e empobrece a própria família. Além disso, acaba por privar os jovens daquele contacto que lhes é necessário com as suas raízes e com uma sabedoria que a juventude, sozinha, não pode alcançar.»
Hoje são eles, amanhã seremos nós: façamos, desde já, o que está ao nosso alcance!