Hidrogénio verde: uma oportunidade estratégica para Portugal
Por Hugo Rodrigues, responsável pelos mercados verticais da Indústria da Siemens
O hidrogénio verde tem sido, ao longo dos últimos anos, apontado como uma peça central na transição energética, dado o papel fundamental que pode ter na descarbonização em setores onde a eletrificação é particularmente difícil. São exemplos disso as indústrias da cerâmica, do vidro ou cimenteiras, onde pode servir como combustível alternativo proveniente de fontes renováveis, descarbonizando-as. Pode também ser usado nas indústrias química e petroquímica, como substituto sustentável ao hidrogénio necessário aos seus processos químicos ou na produção de fertilizantes sustentáveis, bem como no setor dos transportes, particularmente os pesados, marítimos aéreos ou terrestres, já que o futuro terá de passar obrigatoriamente pela substituição dos combustíveis fósseis por alternativas verdes sustentáveis.
Além de ser uma solução viável para a descarbonização da indústria e dos transportes, o hidrogénio verde pode também desempenhar um papel crucial no armazenamento e exportação de energia renovável, um dos grandes desafios da transição energética.
À medida que os Estados-membros da União Europeia enfrentam a contagem decrescente para reduzir progressivamente as emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030 e alcançar a neutralidade carbónica até 2050, torna-se claro que soluções como esta terão um papel crucial neste processo.
Portugal já manifestou fortes ambições nesta área e está já a dar passos nesse sentido, tendo recentemente lançado alguns programas de apoio à produção e utilização de hidrogénio verde. No entanto, os desafios persistem, especialmente no que diz respeito à produção em grande escala e à sua viabilidade económica, aspetos que definirão o futuro desta tecnologia no país.
É em Portugal que se desenvolvem alguns dos maiores investimentos no hidrogénio verde a nível europeu. É também no nosso país que existem ótimas capacidades para desenvolver estes projetos, seja pelos recursos ambientais com potencial para produção de energia renovável em larga escala, seja pela qualidade e competência da nossa engenharia, tecnologia e infraestruturas. Mas, embora os projetos em curso estejam a ganhar tração, não tenhamos dúvidas: a sua concretização plena só será viável quando as condições de mercado e o enquadramento regulatório permitirem preços competitivos de energia renovável – essencial para a produção do hidrogénio considerado verde. Este é um processo natural, sendo os desafios que enfrentamos hoje, de certa forma, semelhantes aos que as energias eólica e solar fotovoltaica – que contaram com subsidiação – enfrentaram no seu início.
Com olhos postos no futuro, que se quer descarbonizado, devemos enquanto país desburocratizar, simplificando os processos de decisão e apoio, e lançar uma maior clareza sobre a estratégia neste campo a curto, médio e longo prazo, criando a confiança necessária para a realização de investimentos desta envergadura. Neste processo, é essencial envolver também as empresas portuguesas, potenciando a sua participando no desenvolvimento destes grandes projetos, de forma a tornarmo-nos mais do que o país onde os mesmos estão sediados. Portugal deve encarar esta ambição como uma oportunidade única para se posicionar como país de referência no que diz respeito à tecnologia, talento e às competências de relevo para esta nova indústria, tornando-se consequentemente exportador não só do hidrogénio verde e seus derivados, mas também da tecnologia e engenharia associadas.
Como parte de uma empresa multinacional, que tem um compromisso forte com a sustentabilidade e com o nosso país, vejo no hidrogénio verde uma área estratégica para o futuro, sendo este um caminho em que a Siemens estará, uma vez mais, preparada para percorrer com Portugal.