Haverá sempre muito mais vida que a própria morte

Por Nuno España, Gestor

Na sexta feira, decidi pôr-me no carro a caminho de Lérida. Já tinha feito este caminho tantas vezes. Umas no banco de trás com os meus irmãos, outras de transportes públicos (comboio) e outras a conduzir para ir de férias e visitar a família. Mas nunca tinha feito este caminho com a certeza que seria a ultima vez que o faria para ver a minha Abuela. Queria ir despedir-me. Infelizmente, para isso não cheguei a tempo. Soube a meio caminho que tinha morrido em paz. E que bom saber que foi em paz.

A minha Abuela é das mulheres mais fantásticas que já conheci. Muito provavelmente que alguma vez irei conhecer.

Uma mulher bonita e elegante, de uma inteligência muito acima da média, que conseguia, de modo muito subtil, sagaz e eximio, um particular equilíbrio entre dureza e empatia, sempre com a mensagem certa para cada um, adequada a cada momento.

Muitas das suas mensagens ficaram e ficarão comigo.  Nos momentos certos, acabo sempre por naturalmente as ir buscar aos lugares mais recônditos, ajudando-me a posicionar e a tomar decisões de forma mais calma e serena.

Uma mulher Católica, de valores muito claros e definidos, que sempre foi de família – não tivesse tido um casamento de 40 anos e 6 filhos! Sempre acreditou que, através da família, podia mudar o mundo e torná-lo bem melhor.

De tão vaidosa que era, provavelmente não queria que a visse debilitada, sem tempo de ir ao cabeleireiro, arranjar o cabelo e as unhas. Como sempre gostou pouco de chamar a atenção, partiu durante a noite, sozinha, enquanto dormia.

Morreu em paz, na certeza de deixar um legado de vida e união. À sua maneira, mais uma vez, juntou toda a gente.

Durante estes últimos dias têm chegado família e amigos de todo o lado, para se despedir.  E que grande festa tem sido celebrar a sua vida! Também no céu deverão estar a ter uma festa de arrombar, com o meu Pai, o meu Abuelo, e mais alguns amigos e família que já se juntaram à festa, porque destas festas não há todos os dias.

É verdade que quando alguém morre há sempre uma partida, tristeza e saudade, mas está nas nossas mãos decidir de que forma queremos encarar a morte. Por aqui decidimos fazê-lo com VIDA. Porque não há outra forma de amar genuinamente senão essa.

Agora é dar sentido à sua vida e mantê-la ainda mais viva nas nossas, junto de todos aqueles com quem vivemos e convivemos. Seremos verdadeiros testemunhos de alguém que de alguma forma mudou o mundo e nos deixa a nós a grande responsabilidade de fazer o mesmo. Realmente cada vez mais acredito, que dependendo de nós, poderá sempre haver mais vida que a própria morte.

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