Gestão das empresas num mundo de Inteligência Artificial

Por Manos Raptopoulos, Presidente SAP EMEA

A Europa tem um ano desafiante pela frente. A confluência de vários fatores disruptivos – conflitos geopolíticos, instabilidade nas economias, pressão regulamentar e o impacto das novas tecnologias – irá, sem dúvida, testar os responsáveis das empresas até ao limite.

Ao conversar com vários gestores em toda a região, surgiram vários temas em comum. Desde a necessidade urgente de ser mais resiliente e de reduzir riscos, até ao aproveitamento do poder da Inteligência Artificial (IA) ou à melhoria dos esforços de sustentabilidade. E sempre com a garantia de que os investimentos geram um valor real.

Redução dos riscos da empresa

Num ambiente definido pela volatilidade e incerteza geopolítica, os líderes empresariais enfrentam um risco acrescido nas suas operações. Tal gera uma necessidade premente de intervenções operacionais e tecnológicas para reduzir o risco e trazer estabilidade à empresa, enquanto a agilidade é salvaguardada.

O panorama regulamentar da Europa está a tornar-se cada vez mais complexo, à medida que os decisores políticos tentam acompanhar o impacto disruptivo da tecnologia. A nova Lei da Inteligência Artificial, por exemplo, estabelecerá normas rigorosas em torno do seu desenvolvimento e da sua aplicação em contextos empresariais. Isto inclui proteções para a IA de uso geral; proibição total da IA no que se refere aos direitos dos cidadãos e aos processos democráticos e; o direito dos consumidores em apresentarem queixas e exigirem explicações das decisões baseadas em sistemas de IA.

Além disso, uma onda de novos regulamentos no domínio do comércio e alfândegas em toda a região aumentará a pressão sobre a conformidade das empresas, que já sofrem com os desafios atuais ao nível das suas cadeias de abastecimento. Exemplo, desde o início do ano, quem pretenda exercer a sua atividade na Europa passa a estar sujeito ao Sistema de Comércio de Emissões da UE, que visa estabelecê-la como o primeiro continente neutro em termos climáticos, na verdade, um objetivo verdadeiramente admirável.

Toda esta complexidade exige um grande investimento em ferramentas digitais sofisticadas, para proporcionar uma maior visibilidade do impacto climático da cadeia de abastecimento de ponta a ponta.

Resiliência da cadeia de abastecimento não é o mesmo que agilidade

Como se os contínuos efeitos da pandemia nas cadeias de abastecimento mundiais não representassem um desafio suficiente, os líderes empresariais também tiveram de lidar com os conflitos geopolíticos em curso. Se pensarmos no redireccionamento de navios para evitar o Canal de Suez, na escassez de componentes de alta tecnologia ou na volatilidade dos preços dos produtos desde os alimentos à energia – todos os fatores criam uma enorme instabilidade na cadeia de abastecimento.

Em resposta, as empresas voltadas para o futuro procuram uma maior agilidade, de modo a responderem a estas ameaças. Um relatório da S&P Global destaca a importância da tecnologia na maximização das hipóteses de sucesso das organizações na manutenção de cadeias de abastecimento estáveis. E um dos principais objetivos da transformação digital a este nível é a capacidade de melhorar a visibilidade de ponta a ponta. No entanto, um estudo da KPMG revelou que 43% das organizações globais não têm perceção do desempenho dos seus fornecedores de nível um – uma estatística surpreendente.

Uma maior visibilidade destes processos também traz impacto ao nível da sustentabilidade. O mesmo estudo da KPMG concluiu que apenas 5% das emissões da cadeia de abastecimento provêm do fabrico direto. Valor que aumenta cinco a dez vezes se avaliarmos todo o processo.

As plataformas digitais podem melhorar significativamente a capacidade das empresas para recolher dados sobre as emissões e definir metas adequadas para os principais fornecedores, a fim de impulsionar coletivamente melhores resultados de sustentabilidade. Além disso, as organizações aproveitarão cada vez mais o poder da IA para melhorar a gestão da cadeia de abastecimento, logística e as compras. De facto, espera-se que metade das organizações a este nível invista em 2024 em aplicações que suportem IA e capacidades analíticas avançadas.

Utilizar o verdadeiro valor comercial da IA

As empresas irão tirar partido da IA generativa e da IA de negócio, com o objetivo de impulsionarem a inovação, a eficiência e a produtividade. Sem surpresa, a Gartner prevê que a Gestão de Confiança, Risco e Segurança em Modelos de IA será um dos principais temas tecnológicos deste ano, com base nos avanços na monitorização de modelos, segurança de aplicações de IA e privacidade.

No entanto, as empresas europeias parecem hesitar no lançamento da IA nas suas operações. E, se considerarmos a legislação da UE já mencionada, as que procuram incorporar a tecnologia nos seus modelos de negócio ou ambientes operacionais terão de construir o seu caso de utilização tendo em conta a conformidade e a privacidade.

As empresas podem, inquestionavelmente, aproveitar a IA criada especificamente para os seus negócios. Grandes fornecedores de software e de processamento na cloud investiram significativamente na construção de uma IA responsável nos seus produtos principais. O que significa que os clientes podem beneficiar da criação de valor dos seus investimentos em software.

Estamos perante um ano crucial para muitos gestores empresariais em toda a EMEA: apesar de assustador em vários aspetos, será um momento incrivelmente emocionante na gestão das empresas.

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