Formas de reduzir as emissões de CO2 há muitas, mas esta pode ser a melhor

Por João Costa, country manager da Expense Reduction Analysts

Não há mais como negar, o aquecimento global é muito mais do que o degelo e o nível das águas a subir. O fenómeno chegou e está no topo das preocupações dos países mais desenvolvidos pela urgência que exige.

Não faltam propostas para ações coordenadas a nível global para combater as alterações climáticas. O problema é que grande parte não sai da gaveta por falta de equidade ou de interesse. Contudo, isto pode mudar com a Conferência das Nações Unidas (COP26) que se realizará este ano e voltará a trazer para a ordem do dia a necessidade de um acordo a nível mundial.

Muitos concordam que umas das formas de reduzir as emissões de CO2 seria atacar o ponto fraco de cada um: a carteira. Taxar as emissões traria muitos resultados a curto prazo, mas também mudanças a nível económico. É aqui que as opiniões começam a divergir, porque nem todos os países têm capacidade de suportar tais alterações. Por um lado, as nações industrializadas, como os EUA, temem que, ao travar a sua indústria para baixar as emissões, os países em desenvolvimento aproveitem para aumentar a sua produção e, assim, ganhar poder estratégico. Por outro lado, os países menos desenvolvidos, que emitem muito menos toneladas de CO2 per capita, não consideram justo ter de baixar as emissões na mesma ordem de grandeza que países que emitem quase vinte vezes mais.

Assim, considero que o futuro passa por medidas mais equitativas e por dar a cada país metas e incentivos justos, mas igualmente desafiantes. Uma das soluções mais discutidas – Global Carbon Incentive (GCI) – passa por definir a média global de emissões, que, de momento, se encontra nas 5 toneladas anuais per capita, como ponto de partida. Cada país que emita mais do que essa média global contribuiria anualmente para um fundo de incentivo global, sendo o montante calculado multiplicando o excesso de emissões per capita pela população e pelo GCI. Por oposição, os países que emitirem abaixo dessas 5 toneladas per capita receberiam a parte proporcional dos valores pagos pelos países incumpridores.

Com este modelo todos os países teriam a ganhar com a diminuição das emissões: os países desenvolvidos vão querer pagar o menos possível, já os países menos desenvolvidos podem investir o dinheiro recebido em novas tecnologias mais amigas do ambiente e modernizar a indústria para aumentar a sua competitividade.

Desta forma, cada país pode decidir as estratégias a adotar para atingir os valores pretendidos. Taxar as emissões ou combustíveis, impor novas regras para o ambiente ou dar incentivos às energias renováveis deixariam de ser imposições e, sim, escolhas de cada um.

É, claramente, o sistema menos imperfeito porque é simples e autofinancia-se, mas a questão que se põe é: será necessário uniformizar e acordar a forma como se calculam as emissões para se estabelecer os valores a pagar/receber. E fixar o valor do GCI, que poderia aumentar anualmente ou a cada 5 anos. Se o GCI fosse aumentando ao longo do tempo, as somas coletivas pagas aproximar-se-iam dos 100 mil milhões de dólares por ano, valor equivalente ao que os países ricos prometeram aos países pobres na COP15 em 2009.

Claro que nenhum país quer estar a contribuir para mais um fundo, mas, até ao momento, esta parece ser a melhor opção. Numa altura em que há tantos desequilíbrios entre países pobres vs. países ricos, nomeadamente no que diz respeito às vacinas e ao acesso a outras tecnologias relacionadas com a saúde, este plano mitigaria um pouco este sentimento de injustiça.

Trata-se, por isso, de equilibrar as prioridades a nível nacional com as necessidades globais para que possamos salvar o único planeta que temos.

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