Férias: como convencer os portugueses a ficar?

Por Marta Almeida, Coordenadora Nacional DS Travel

Chegámos ao mês de marcação de férias para a maior parte dos portugueses, e os destinos para fora de Portugal continuam a bater recordes. Anos após ano, os portugueses continuam a preferir viajar para fora, na hora de escolher o seu destino de descanso. E para cada vez mais longe. Tunísia, Cabo Verde, México, República Dominicana, Cuba, Colômbia, Tailândia, estão entre alguns dos destinos mais procurados, maioritariamente com a modalidade de “pacote de viagem”, com tudo incluído, ou através de cruzeiros, colocando de parte a possibilidade de “fazer férias cá dentro”.

Mas porque vemos esta tendência de procura de destinos de férias tão longínquos? Porque Portugal continua com um mercado desajustado aos valores de vida dos portugueses, e o estrangeiro com ofertas que apresentam uma melhor relação qualidade-preço. Valem-nos apenas os arquipélagos dos Açores e Madeira, que continuam tão atrativos como os destinos mais procurados na América Latina ou Ásia. E esta tendência só se altera em caso de férias mais curtas, em pausas de feriados festivos, como é o caso da Páscoa, que se aproxima. Veja-se os dados do INE que indicam uma ocupação de quase 100% nos hotéis em Portugal para este período, principalmente por portugueses.

Por cá, estamos perante um cenário de falta de oferta, que nos fará continuar a perder para os estrangeiros, porque os preços aplicados são superiores ao poder de compra português. O cliente que quer praia e pensa no Algarve, percebe que ao comparar preços com Sul de Espanha ou até Djerba (Tunísia) ou Saïdia (Marrocos), com garantia de acesso a praias de água quente e bom tempo, rapidamente abdica do destino no sul do País. Hoje, as Ilhas Baleares têm serviços com valores semelhantes aos das Caraíbas. A diferença? No Caribe, há uma maior qualidade-preço, e a possibilidade muito atrativa de adquirir um pacote com tudo incluído de qualidade superior.

Temos de nos tornar mais atrativos. E só juntos conseguiremos.

A criação de sinergias entre agências, hotéis e empresas a nível nacional, com serviços de excursão e de transfers, permitirá criar mais soluções e reforçar a oferta para quem quer ficar por cá. É necessário, ainda, conseguirmos distribuir de forma mais igualitária essa oferta por todo o território nacional. Por exemplo, os programas de férias pré-elaborados, o que designamos como “pacotes de viagem” com tudo incluído são muito raros para destinos em Portugal, e quando existem, são na sua maioria à saída de Lisboa, deixando o Norte de Portugal com muito pouca oferta.

As várias regiões do País devem juntar-se e tirar partido da sua oferta, nomeadamente através da criação de programas que cativem o público, com programas pensados, excursões e, sobretudo, estadias com valores mais aceitáveis para os consumidores nacionais, já que o alojamento de (efetiva) qualidade que encontramos está sempre associado a valores que nem todos podem pagar.

Se os portugueses que estão dispostos a pagar para ir para fora, é preciso aprendermos a convencê-los a ficar.

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