Falta de mão-de-obra qualificada no setor da construção e reabilitação é transversal em todas as funções

Por João Carvalho, partner e co-fundador da MELOM

Portugal encontra-se numa fase de transição e é cada vez mais difícil encontrarmos mão de obra para diversos setores no mercado de trabalho, nomeadamente na construção civil. Desde a direção de obra às funções técnicas, como preparadores de obra ou orçamentistas, este problema poderá tornar-se ainda mais crítico num futuro próximo e afetar, irremediavelmente, os timings e custos de produção. Este fenómeno não é muito difícil de explicar ou compreender e, na verdade, é uma réplica do que já aconteceu em outros momentos com os países mais evoluídos.

Começando pela engenharia, existem menos pessoas a candidatarem-se a cursos com o objetivo de trabalhar no sector da construção. A falta de mão de obra generalizada desmotiva os engenheiros a trabalhar como empreiteiros porque é cada vez mais complicado gerir e garantir prazos. As funções como gestor de projeto são mais aliciantes e menos exigentes, e o mercado europeu paga significativamente mais que Portugal, existindo por isso algumas saídas.

É notório o envelhecimento ao nível dos encarregados gerais de obras, não havendo nas empresas quadros para os substituir, porque anteriormente estas funções eram desenvolvidas por pessoas de outras nacionalidades que, entretanto, regressaram aos seus países. Uma vez que não existe interesse dos jovens, atualmente, em entrarem em cursos técnicos no setor construção, é urgente criar mais incentivos.

Acreditamos que o setor tem pouca atração e appeal para um jovem. Existindo um sem-número de potenciais novas profissões que foram, entretanto, criadas pela tecnologia, cabe às empresas do setor demonstrar e provar que esta atividade tem inúmeras vantagens face a outras. A começar pela procura, existe pouca mão de obra, mas a procura por serviços de remodelações totais ou parciais de imóveis não pára de subir. Esta é uma das grandes vantagens deste mercado, não há falta de clientes e a concorrência não é tão feroz como noutros setores.

Aqui também não existe, como noutros setores, a ameaça que a IA ou a robótica retirem trabalho aos profissionais que realizam as obras. A IA vai ajudar sem dúvida a acelerar o processo de conceptualização e planeamento da obra, mas serão sempre necessárias pessoas para as executar.

O grande problema das obras é o facto de não serem atrativas. O mercado não está profissionalizado e os consumidores olham para os atores deste setor com desconfiança, por isso precisamos de percorrer ainda um caminho de profissionalização e atração de pessoas e profissionais de outras áreas, que venham para este setor com ideias novas e disrupção.

A chave estará em empresas que consigam dar uma solução integrada e profissional para as necessidades dos clientes, coordenando todas as especialidades e profissionais num único interlocutor.

Temos trilhado um longo caminho que contribuiu para chamar à atenção de todos para a necessidade de atrairmos jovens e mulheres para mudar este setor envelhecido e com pouca inovação. Continuaremos esta missão com a certeza que estamos hoje melhor do que há 13 anos, nós e o mercado.

 

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