Engenharia e energia: O que dizem os especialistas

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

As reflexões estratégicas dos países centram-se cada vez mais na produção e uso da energia, envolvendo temas como a descarbonização da economia e a autonomia/independência energética.

O último número da revista Ingenium, da Ordem dos Engenheiros, numa edição especial, tem um conjunto de notícias e artigos de especialistas que, entre outros assuntos, abordam essencialmente o tema do binómio engenharia/energia. Por este se tratar de um artigo de opinião, aqui deixo um apanhado das ideias expressas por alguns autores, com as quais, naturalmente, concordo, e muitas das quais já fui expressando por este meio ao longo do tempo, das quais posso destacar:

– A busca por maior resiliência dos sistemas de energia levanta questões sobre uso do solo, escassez de água ou uso de matérias-primas (cobre, lítio, níquel, cobalto, zircónio, metais do grupo da platina e elementos de terras raras) que podem levar ao seu esgotamento precoce, pelo que se torna necessário encontrar respostas, nomeadamente ao nível da economia circular e do desenvolvimento industrial;

– A independência energética das democracias é uma garantia fundamental de paz, bem-estar e sustentabilidade;

–  No que se refere aos leilões de concessão relativos à energia eólica offshore, o que se pretende é um concurso faseado no tempo, de forma a que os consórcios de empresas portuguesas se possam posicionar e, assim, beneficiar económica e tecnologicamente deste processo;

– O hidrogénio liquefeito tem uma densidade de energia de 2,3 kWh/L e o processo de liquefação necessita do equivalente a 36% da energia do hidrogénio liquefeito;

– O metanol produzido a partir da hidrogenação direta do CO2 mantém 93% da energia do hidrogénio usado na reação e exibe uma densidade de energia de 5,0 kWh/L (ca. 6,3 kWh/kg);

– Na produção de metanol verde a partir de hidrogénio, para ser possível atingir custos de produção competitivos, existem vários “Cabos das Tormentas” para ultrapassar, que parecem estar a ser ultrapassados pelo projeto H2Driven;

– As reservas de lítio no mar são cerca de 10.000x superiores às terrestres (concentração de lítio na salmoura de ca. 30 mg/L), sendo a sua exploração a partir da água do mar inovadora e lucrativa;

–  O aumento da receção de biorresíduos, fruto das políticas de intensificação de recolha seletiva porta-a-porta nos nossos municípios, bem como da obrigação legal imposta a nível europeu para todos os Estados-membros de que “até 31 de dezembro de 2023 todos os municípios portugueses devem operacionalizar a recolha seletiva de biorresíduos”, permitirá a valorização do material proveniente do “desperdício alimentar”, para a produção de biometano – um gás não fóssil – o qual será injetado na rede de distribuição ou usado na descarbonização de algumas indústrias;

– A transição energética é uma oportunidade significativa e um enorme desafio para a Engenharia do País, sendo um desafio aliciante a sua realidade, complexidade e amplitude, mas, apesar disso, uma solução viável;

– Portugal possui excelentes condições para ser um “laboratório vivo” para o desenvolvimento e validação de muitas destas novas tecnologias;

– Portugal foi pioneiro na adoção das energias renováveis, o que teve um custo, por isso, agora, para extrair o máximo valor desse pioneirismo, seria interessante tornar o País numa fonte internacional de conhecimento em tecnologias da Transição Energética.

Verifica-se assim, de acordo com a opinião destes especialistas e, naturalmente, também a minha, que existem novas iniciativas e tecnologias tendentes ao desenvolvimento de oportunidades de negócio, em que Portugal poderia ser pioneiro. Podendo ser dado como exemplo a produção do vetor metanol ligado ao hidrogénio, a exploração de lítio a partir da água do mar, a intensificação da produção de biometano (baseada no plano recentemente divulgado).

Assim, o nosso país poderia liderar a transição energética, pelo menos em algumas das suas vertentes, puxando pela economia e pelo emprego, nomeadamente o qualificado.

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