Educação para o desenvolvimento
Por Paulo Carmona
Não devemos ter bloqueios ideológicos ou colocar a defesa da escola pública/professores à frente do interesse dos estudantes e do País.
Educação e desenvolvimento, diz- -se e escreve-se que não existe um factor sem o outro. A educação gera desenvolvimento e o desenvolvimento gera educação. Certo é que não existe desenvolvimento sem educação. Quando a Coreia do Sul, devastada pela guerra das Coreias, planeou o seu crescimento económico, fê-lo investindo maciçamente em educação, sobretudo nos ramos técnicos e científicos, fornecendo mão-de-obra qualificada para que, nos anos 80, começassem a surgir os grandes conglomerados, de tecnologia de ponta, que conhecemos hoje. A Irlanda fez exactamente o mesmo.
De um dos países menos desenvolvidos da Europa na década de 70, através de um grande investimento em educação científica, passou para um dos países mais ricos da Europa. Estes dois países são um exemplo do que se pode fazer pelo desenvolvimento de um país, mas com planeamento antecipado e resultados a uma geração. Por cá, temos do melhor e do pior, sem planeamento. Temos um ensino secundário de bom nível, nas comparações possíveis, testes PISA, com outros países. Contudo, a nossa força de trabalho é pouco qualificada ainda. Apenas 40% dos portugueses completaram o secundário e o grau de iliteracia é bastante grande.
Depois, temos o problema das saídas profissionais. Por questões ideológicas produzimos muitos universitários teóricos, com pouca empregabilidade, enquanto faltam, por exemplo 24.000 serralheiros e mecânicos, segundo José Manuel Fernandes da Frezite, que possam aumentar ainda mais a exportação e, por conseguinte, a riqueza do País. É um limite ao crescimento do País e ao seu PIB potencial. E por que é que o Manel tem de fazer o 12.º ano para admissão à faculdade, se quer ser mecânico como o primo Chico? A reversão que este Governo está a fazer no ensino profissionalizante, à alemã, é mau para a escolha dos estudantes e para o País.
Se queremos que todos tenham a possibilidade de ir para a faculdade, por que é que só os pais com dinheiro conseguem colocar os seus filhos nas boas escolas privadas? Ou se acaba com o ensino privado ou se permite que todos o frequentem, independentemente do seu extracto social. Como acontece hoje, começa cedo o caminho para a desigualdade, sendo que uma boa formação é condição básica para um desenvolvimento social.
Há experiências interessantes com o cheque-ensino, mas poderá haver outras. Não devemos é ter bloqueios ideológicos ou, mais ainda, colocar a defesa da escola pública/professores à frente do interesse dos estudantes e do País.
Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro de 2018 da revista Executive Digest.