Orçamento Base Zero!

Por Ricardo Florêncio

É altura em que todos exigem alguma coisa, e vários muita coisa. Desde as coisas mais disparatadas e absurdas, apenas para figurarem nas notícias de quem lhes pegar, até às exigências que fazem sentido e que poderiam ser levadas em conta. É altura em que sectores de actividade, profissionais, representantes de zonas geográficas, grupos de interesses, ou seja, todos, jogam as suas cartas, para, através de influência ou de ameaças, tentar ganhar algumas promessas para o futuro junto das forças políticas em disputa. É a prática habitual e aquilo a que já nos habituámos. Desde que não prejudiquem a vida das pessoas, faz parte do “jogo”. Agora, o que interessa é o que o Governo que sair das eleições vai fazer. E aqui é que podia fazer-se de modo muito diferente. Se houvesse coragem para tal, o Estado deveria fazer um “orçamento de base zero”. Utópico? Talvez! Mas faria todo o sentido. Face à escassez de recursos, e à necessidade de responder a diversas prioridades da nossa sociedade, o exercício de orçamento base zero permitia que se questionasse uma série de situações, e que se analisasse seriamente se esses montantes gastos são mesmo necessários, são mesmo os que necessitam de ser alocados, ou são apenas mais uns na lógica do “sempre se fez assim”, e assim trabalha-se numa lógica de orçamento incremental, em que basicamente se questiona muito pouco, e coloca-se mais um X% em cima da verba do ano anterior. Este sistema é mau em qualquer altura. Num tempo em que não há dinheiro para tudo e, como se tem verificado, há claramente áreas descuradas de investimento, e em que é notória a necessidade de reforço de verbas nos mesmos, este exercício revela-se de capital importância. Haverá coragem para isso?

Editorial publicado na revista Executive Digest nº 162 de Setembro de 2019