O fim do euro?

Paulo CarmonaDada a rapidez com os cenários mudam diariamente na Europa escrever sobre a crise europeia numa revista mensal deveria ser um risco a evitar, mas o assunto é tentador e incontornável.

Já não se aguenta o dilúvio de notícias sobre os mercados, mais uma cimeira Merkel-Sarkozy, os ratings, os comentadores, etc. Tanto ruído afasta-nos de pensar no que verdadeiramente está em causa neste quase fim de mundo.

O futuro da Europa será o que, por exclusão de partes, não poderá acontecer. Alguém acredita que mesmo com uma absoluta irresponsabilidade dos políticos, o Euro e a União Europeia acabem? Seria possível cairmos no abismo sem que o BCE, os chineses, americanos, brasileiros, australianos, árabes nada fizessem para o impedir. Não para nos salvarem, mas para se salvarem a eles próprios. O fim do Euro, e com ele a União Europeia, seria um meteorito financeiro maior do que o que matou os dinossauros, com repercussões devastadoras no complexo edifício financeiro mundial. Afinal os Maias teriam razão.

Recuar na integração europeia seria iniciar um ciclo vicioso que nos levaria ao fim da própria União, afundada em azedas recriminações. Mantermo-nos neste nível adiaria por algum tempo a inevitabilidade da desintegração europeia. Os mercados têm memória e nunca a dívida pública, e também empresarial pelo risco país, de grande parte dos países europeus chegaria perto do custo de financiamento duma Alemanha ou do seu núcleo duro. Isso criaria mais uma desvantagem competitiva para os restantes países no seu custo de financiamento para além de permanecerem sujeitos a posteriores e recorrentes desconfianças dos mercados.

Uma Europa com 2 ou 3 euros também não será muito viável dada a fractura que tal situação pode abrir e com consequências na própria União entre países de primeira e de segunda. Ou se está no euro ou se estará fora. A questão hoje é mais de saber até que ponto a Grécia e Portugal aguentam a permanência no euro ou são convidados a sair, embora ninguém conseguiu simular seriamente uma saída de um país da zona euro sem levar à destruição do seu tecido económico entre dívidas em euros e receitas em moeda própria e a multiplicidade de falências e do próprio Estado.

Será inevitável um passo na direcção de uma maior integração financeira para salvar o euro. É consensual que o euro foi criado com alguns artificialismos que esta crise veio destapar. Não é possível existir uma moeda única sem co-responsabilização fiscal e orçamental entre os seus membros, essencial para que exista uma solidariedade mutuária e os abrigue de tormentas como aquela que assistimos.

Os eurobonds ou a garantia mútua da dívida pública europeia serão uma realidade bem como a transferência de poderes financeiros para Bruxelas. Permitirão aos Estados a autonomia democrática de fazer as suas opções políticas quanto à discricionariedade da despesa mantendo uma disciplina orçamental para o bem comum. Parecem ser boas notícias para nós tendo em atenção o nosso histórico financeiro. Será?

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