O Estado dono disto tudo?

Por Ricardo Florêncio

É o nome que se quiser dar. Mas, na verdade e tão só, é a crise mais profunda que já vivemos, repentina, e que ninguém conseguiu prever ou preparar-se. Agora, o que interessa é não nos distrairmos com joguetes e jogos de salão, e focarmos a nossa atenção e o nosso esforço em dar a volta à situação, e relançar a Economia e as empresas. A larga maioria das empresas estão esfrangalhadas e em situação muito debilitada, necessitando de investimentos para retomar a sua actividade. Contudo, onde está esse capital necessário? Não é de agora, pois já verificamos no passado recente que o tecido empresarial português não tem muita capacidade de investir. Agora, acrescente-se as dúvidas, o medo, e o receio de investir, perante a imprevisibilidade de toda a situação, e o campo de actuação dos empresários portugueses fica ainda mais reduzido. Sobra o capital estrangeiro, mas que estará interessado em grandes investimentos, e o Estado. E essa é a grande dúvida. Qual irá ser o papel do Estado no relançamento da Economia e das empresas, e mesmo no futuro. Será o Estado o principal investidor da Economia e das empresas? Será o tal Banco de Fomento o veículo prioritário? Mas com que modelo? Assumirá o Estado o papel de investidor, financiador, ou será mesmo accionista? E pretenderá posteriormente ir saindo (depois de pago o que investiu) ou pretenderá perdurar a sua presença nas empresas? E qual o modelo de “governance” nas empresas financiadas pelo Estado? Desejará ter um papel actuante? Iremos ter muito mais Estado na Economia e nas empresas? Iremos assistir a um Estado dono disto tudo?

Editorial publicado na revista Executive Digest nº 171 de Junho de 2020