Editorial

Que bom seria termos candidatos a Primeiro-ministro que nos mostrassem de onde apareceriam os fundos para as suas promessas. Quem não gostaria de ouvir: “-Vamos aumentar os fundos para a Cultura reduzindo os fundos da Educação.” Ou: “- Vamos aumentar as pensões retirando fundos da Saúde. Como? Reduzindo o desperdício, mas só depois de tal acontecer.”Quem gere empresas sabe que os fundos são limitados. Não se pode investir em todo o lado. Por vezes as escolhas têm de ser feitas. Não o assumir é pura demagogia eleitoral e inverdade intelectual.

O eleitor merece ser confrontado com escolhas claras e pragmáticas, mais do que programas que são verdadeiros manifestos de intenções. Por exemplo, saber quais as prioridades para 3 mil milhões de euros?

Relançar a economia através de Obras Públicas que se provem necessárias?

Utilizar esse mesmo montante para liquidar as dividas em atraso, transformando o Estado em pessoa de bem e evitando a asfixia de muitas e boas empresas?Aumentar os regimes de cobertura social, pensões, rede de cuidados de saúde primários, de prevenção ou continuados?

Baixar impostos com especial ênfase em subsectores, clusters, de inovação ou de produtos transaccionáveis? Todos os programas acima referidos, keynesianos ou supply-side são provadamente meios óptimos para combater crises ou depressões. Mas não os podemos ter todos como prioridades, muito menos prometê-los. Que candidato defende que prioridade?

Que bom seria se o Estado se preocupasse em cortar a “red-tape” diminuindo e clarificando o labirinto legislativo, aliás conforme recomendação da U.E. a todos os membros que reduzam as suas cargas legislativas. E se não fosse pedir muito, que as leis fossem pensadas e avaliadas no seu impacto na sociedade, nos grupos envolvidos e reavaliadas nos seus aspectos mais formais e por vezes, ortográficos.

Que bom seria se encontrássemos forma de aproveitar todas as pessoas válidas que cada vez mais cedo abandonam as suas funções por pré-reforma ou reestruturações. Tantos trabalhadores do conhecimento, tanta experiência de gestão desperdiçada em inactividade ou campos de golfe quando ela seria tão necessária para ajudar os nossos jovens empreendedores. Quantos obstáculos intransponíveis, condenando pequenas empresas e postos de trabalho, seriam ultrapassados com a ajuda de quem tem alguma experiência?

Conjugar a necessidade de apoio e experiência com a necessidade de ser útil, ter projectos desafiantes e amortizar a sua divida à sociedade. Que bom seria.

Criticar opções, medidas ou soluções é fácil. Numa altura como esta em que não existem boas soluções, apenas menos más, ficar no sofá a apontar o dedo é pouco interessante. Propor soluções, desafiar, debater, envolver-se nas campanhas ou ir votar, isso tem mais valor e talvez seja mais difícil. Talvez valha a pena tentar. Portugal tem solução se todos nos envolvermos e mobilizarmos seriamente e deixarmos de criticar facilmente quem toma, discute ou propõe decisões em tempos difíceis.

Por Paulo Carmona, Director da Executive Digest

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