Da origem do investimento às novas tendências: como está a evoluir o mercado de escritórios em Portugal?

Por Frederico Leitão de Sousa, Head of Offices da Savills Portugal

No dinâmico mundo do imobiliário, poucos segmentos se transformaram tanto nos últimos anos como o mercado de escritórios em Portugal. O país apresenta características únicas tais como a sua localização estratégica, excelentes infraestruturas, talento qualificado e elevados níveis de segurança, aliados a uma estabilidade política duradoura. Estes fatores levam a que o “return to office” seja uma realidade em Portugal, ao contrário do que se verifica noutras geografias europeias e norte-americanas que contribui, significativamente, para o aumento dos atuais números de ocupação registados no mercado nacional de escritórios e, consequentemente, para a sua crescente dinâmica. Só até abril deste ano, Lisboa e Porto assistiram a uma onda de atividade neste segmento, com 83 transações que totalizaram mais de 118.720 m2 ocupados.

O panorama de escritórios em Portugal tem sido moldado por algumas das tendências transversais à maioria dos mercados mundiais como a “flight to quality” por parte das empresas, influenciada por critérios de sustentabilidade e ESG e que resulta na procura de ativos prime em localizações privilegiadas. Por sua vez, os edifícios inteligentes, que se destacam pela eficiência dos recursos utilizados e pela operacionalidade e experiência dos utilizadores, são também uma tendência crescente, apesar de ainda pouco visível no nosso país.

Note-se que o mercado ocupacional de escritórios não está a ser apenas impulsionado pelos mercados europeus tradicionais. O Reino Unido e EUA, devido ao Brexit, os Países do norte da Europa e o Leste Europeu, como consequência do conflito na Ucrânia, também desempenham um papel fundamental na dinamização deste segmento. Um afluxo de origem internacional que não só reforça a economia, como também estimula a inovação e a criação de emprego.

O “tradicional lease” continua a figurar enquanto uma das principais vertentes do mercado ocupacional. No entanto, face à crescente necessidade de adaptabilidade no atual ambiente empresarial, têm emergido no país novas tendências como os flex offices. No primeiro trimestre de 2024, mais de 6.000 m2 destes espaços foram ocupados em Portugal, evidenciando a valorização que os inquilinos atribuem à capacidade de adaptar o seu espaço de trabalho a necessidades em constante evolução. Os escritórios flexíveis proporcionam um ambiente colaborativo e criativo que favorece a produtividade e a inovação, sendo uma grande aposta para empresas com planos de crescimento agressivos, mas sem um planeamento a longo prazo. Esta tipologia permite crescer e controlar custos conforme necessário, além de possibilitar testar localizações e, assim, atrair e reter talento. Os flex offices são, portanto, uma opção atrativa para empresas de todas as dimensões e origens.

Olhando para o futuro, as perspetivas para o mercado de escritórios em Portugal são promissoras. Com vários e bons projetos de escritório em pipeline nas duas grandes urbes nacionais espera-se, em Lisboa e até ao final do ano, a conclusão de 135.000 m² de novos espaços de escritórios, dos quais 15% já estão destinados a pré-arrendamento e 53% a ocupação própria. Já o Porto espera a conclusão de 44.189 m2, dos quais 35% já estão pré-arrendados e 28% destinados a ocupação própria.

Antevemos um cenário de evolução, onde a resiliência e a adaptabilidade do país serão fundamentais para atrair investimento e impulsionar a inovação, posicionando Portugal como um dos principais hubs tecnológicos da Europa. Para tal, contribuem também as políticas fiscais destinadas a empresas propostas pelo atual Governo, que têm como propósito incentivar novos meios de financiamento e conceder benefícios fiscais a potenciais investidores.

A boa performance do mercado ocupacional, impacta positivamente o mercado de investimento com um incremento notável do capital internacional. Desde 2018, cerca de 81% do investimento realizado neste segmento provém de além-fronteiras, totalizando aproximadamente 4,8 mil milhões de euros, com França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e EUA a liderarem o ranking.

O investimento proveniente de novas geografias está, por isso, a moldar o panorama dos escritórios em Portugal que, ao abraçar a sustentabilidade, atrair investimento internacional e adotar espaços de trabalho flexíveis, se está a posicionar como um centro económico dinâmico. As oportunidades são infinitas neste país que irá, certamente, continuar a prosperar enquanto destino de excelência para o desenvolvimento do mercado de escritórios.

Ler Mais