Com a formação de novo Governo, onde fica a transição digital da educação?

Por Débora Amaral, Growth Marketing Manager da Ironhack Portugal

Vivemos em tempos de incerteza política em Portugal, com a recente formação de um novo governo, o que naturalmente traz consigo dúvidas e expectativas em várias vertentes. Um dos domínios cruciais que merece atenção neste contexto é a Transição Digital na Educação, tema que pouco se explorou durante o período de campanha política. No âmbito do Plano de Ação para a Transição Digital, aprovado em 2020, o governo anterior delineou objetivos ambiciosos até 2027, prometendo uma revolução educacional através da integração efetiva da tecnologia no ensino. No entanto, enquanto alguns progressos foram realizados, é inegável que muito ainda está por fazer para alcançar essas metas.

Em 2008, o Plano Tecnológico da Educação investiu 400 milhões de euros para colocar Portugal entre os primeiros cinco países europeus com maior taxa de modernização tecnológica a nível de ensino. Inserido neste plano estava o programa E-escolas, que visava equipar todas as escolas do país com computadores e acesso à internet. Porém estamos longe de alcançar os objetivos estabelecidos pelo Programa, tanto em termos de infraestrutura quanto de adoção de tecnologias. O problema surgiu desde a conceção do Plano, onde se presumiu que ao fornecer boas ligações à internet nas escolas e garantir acesso a computadores para professores e alunos, a utilização destes recursos seria natural, o que não se concretizou. A produção de conteúdo e a ampla utilização dos equipamentos e recursos disponíveis não foram devidamente promovidas. A digitalização representa um agente transformador significativo nas práticas educacionais, no entanto, muitos professores enfrentaram receios diante das suas implicações disruptivas. Como resultado, as instituições de ensino muitas vezes adotaram uma postura defensiva e conservadora diante desse cenário.

Apesar de não podermos negar que este Plano teve um impacto substancial na modernização das salas de aula, acabou por ser um investimento histórico que teve pouca continuidade. Sobretudo quando, mais de 10 anos depois, nos confrontámos com uma pandemia e vimos como o nosso sistema de ensino pouco estava preparado para se adaptar a um contexto digital.

Só em 2020, através do Plano de Ação para a Transição Digital, se voltou a delinear objetivos mais claros quanto à digitalização da educação e nos últimos quatro anos vemos algumas melhorias e um ambiente mais propício à aprendizagem digital. Professores têm recebido formações para a integração de ferramentas tecnológicas na sala de aula e têm sido adotadas plataformas educacionais, facilitando o acesso a recursos digitais. Um bom exemplo é a adoção dos manuais digitais implementada pelo governo – apesar de ter sido apenas um projeto-piloto e não se saber qual o futuro deste projeto. E, mais recentemente, tivemos a criação da medida Cheque-Formação + Digital que pretende promover a manutenção do emprego, a progressão no mercado de trabalho, o reforço da qualificação e da empregabilidade, ao preparar os trabalhadores para as mudanças que a transição digital tem vindo e virá a provocar em todos os setores de atividade.

Porém, apesar destes esforços, persistem desafios. A verdadeira medida do sucesso reside na transformação efetiva do processo educativo e na preparação para os desafios do século XXI. Um estudo da Amazon Web Services destaca que a adoção de Inteligência Artificial pode impactar positivamente a economia portuguesa, atingindo os 61 mil milhões de euros nos próximos seis anos. Neste sentido, a educação desempenhará um papel essencial para colmatar o défice de competências digitais, mas ainda lidamos com um problema básico de desigualdade de acesso a ferramentas tecnológicas. É crucial eliminar estas disparidades, impedindo a marginalização e garantindo que cada aluno, independentemente da sua localização ou condição socioeconómica, tenha igualdade de oportunidades.

Por outro lado, apesar da programação já não ser um mundo completamente estranho no ensino tradicional, é importante continuar a desenvolver e integrar currículos que incluam competências digitais em todos os níveis de ensino, garantindo que os alunos adquirem pensamento crítico em relação ao uso da tecnologia. E professores bem capacitados são a espinha dorsal da revolução educacional. É essencial continuar a investir em formação contínua para professores de forma a capacitá-los a utilizar eficazmente a tecnologia em sala de aula e a adaptar os seus métodos de ensino às necessidades dos alunos na era digital.

Embora tenhamos feito progressos notáveis na Transição Digital na Educação, é crucial manter uma visão crítica e proativa. Além de que não podemos esquecer que promover o talento e a formação dos portugueses nesta área também fomenta melhores condições de vida, com melhores salários e um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Assim, este novo governo enfrenta o desafio de consolidar os ganhos, superar obstáculos persistentes e garantir que os objetivos até 2027 não se tornam meras aspirações. A educação digital é um pilar essencial para o futuro, e o sucesso dessa jornada impactará diretamente as gerações vindouras em Portugal. A pergunta que permanece é: estamos prontos para esse desafio?

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