Carbono: Alguns números

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Fala-se muito do dióxido de carbono ou, numa forma mais simplificada, do carbono. Por isso, para quem não domina este tema, aqui ficam algumas explicações sobre a forma de números, que pretendem ajudar a entender esta problemática.

Os registos da concentração de dióxido de carbono na atmosfera são normalmente referenciados em ppm, ou seja, partes por milhão. Porém, as emissões de dióxido de carbono, sejam por empresa, regionais ou nacionais são registadas em toneladas, embora por vezes também sejam referenciadas as intensidades de emissão, por exemplo em gramas/kWh ou, no caso dos veículos, em gramas/100 kms. Embora estes valores estejam relacionados com as emissões refletem situações diferentes.

É também interessante indicar que em média mundial são emitidas 5 toneladas de CO2 por pessoa por ano. Em média!

Por outro lado, fala-se muito sobre a capacidade do dióxido de carbono como gás de efeito de estufa, mas o metano, nesse domínio, tem um potencial de dezenas de vezes superior. Por isso imagine-se, por exemplo, qual o efeito do metano libertado durante o rebentamento (acidental? criminoso?) dos gasodutos Nord Stream em setembro de 2022. Porém, a produção de metano está principalmente associada à criação de gado, uma vez que esses animais ruminantes realizam alguns processos digestivos que liberam metano. Uma única vaca é capaz de produzir 500 litros de metano por dia, e contamos com mais de um bilhão delas no mundo inteiro.

Em termos económicos, também existem alguns números a considerar neste domínio.  Por exemplo, em 2021 a economia mundial cresceu 87 biliões de dólares e foram emitidas 37 gigatoneladas de CO2, o que dá 2351 dólares de PIB por toneladas de CO2.

De uma maneira geral, por cada tonelada emitida a partir de combustíveis fósseis um quarto é sequestrado pelas árvores (uma árvore sequestra em média cerca de 23 kg/ano de CO2), outro quarto pelos oceanos, ficando o resto na atmosfera. As florestas mundiais sequestram cerca de 15,6 gigatoneladas de CO2 por ano, o que representa cerca de 3 vezes as emissões anuais dos EUA, mas cerca de 8,1 gigatoneladas de CO2 regressam à atmosfera devido à desflorestação, aos fogos e a outros motivos.

Um aspeto menos falado no que se refere ao sequestro do carbono tem a ver com os solos. O solo terrestre contém cerca de duas vezes o carbono existente na atmosfera mais o carbono da fauna e da flora terrestres. A capacidade de armazenamento de um solo depende da sua constituição, do clima e da vegetação existente. De uma maneira geral quanto mais húmido e frio melhor.

No domínio do sequestro, será de contabilizar também o carbono sequestrado, por exemplo em produtos fotossintéticos ou derivados de vida longa, cuja classificação e quantificação ainda não foram realizadas, mas que poderá ser globalmente de um valor assinalável. E de que se trata isto? Por exemplo qualquer produto de madeira incorporado na construção civil. Ou o papel de um livro numa estante de uma biblioteca. Este será, sem dúvida um número a considerar no futuro.

Ficam aqui assim alguns números que nos poderão dar que pensar e servir de guia quando ouvirmos falar destas “coisas”.

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