Blocal

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

No meu último artigo descrevi a estratégia que o mundo moderno vai seguir nos próximos 20 anos: a blocalização já está a substituir a globalização. Ou seja a interação e integração em blocos económicos, políticos, sociais e culturais (como Europa e Norte de África; ou América do Norte e alguns países da América do centro e sul; na Ásia o bloco entre Japão, Coreia do Sul, Austrália e outros países asiáticos; entre outros blocos). De fora fica a China, a Rússia, a Índia, o Brasil, a Turquia, o médio oriente (que está desde sempre instável por questões religiosas e étnicas) bem como outros países menos relevantes no mundo de hoje. Países que utilizam a política económica como estratégia de chantagem política. E mesmo que não o façam, os blocos não podem interagir ou fazer acordos com outros blocos e países cujos princípios e valores são radicalmente opostos. Países que não respeitem os valores defendidos pela ONU não podem interagir com o bloco Europeu. Nem os seus cidadãos e suas empresas. Daí a importância da independência energética assente na economia verde que a Europa tem de acelerar, mas também no conceito de economia circular. A crise de 2008 criou a necessidade de repensar a existência do capital não ter nação. Os constrangimentos logísticos com longas cadeias de abastecimento frágeis reforçaram a ideia de que a globalização pode não ser um sistema tão positivo como parece. A pandemia confirmou esta percepção. A invasão e guerra na Ucrânia acelerou a necessidade de repensar o modelo que o mundo assumiu como a solução para a coexistência entre nações. O pedido de adesão da Finlândia à NATO destapou que acima da economia está a necessidade de segurança e previsibilidade que as nações necessitam para viver com estabilidade. Mesmo o e-commerce está está cada vez mais dependente do “já e agora”, pelo que o “last mile wharehouse” que permita o “door to door” em 24h, impõe o modelo “blocal”. E este modelo tem de ser autónomo na produção e consumo, pelo que deve ter escala suficiente para poder, no limite, não depender de outros blocos.  Obviamente as organizações e alguns países serão sempre multibloco como estratégia de diversificação e minimização de risco, mas o seu foco será sempre prioritário no seu bloco. Daí a importância da reindustrialização da Europa na indústria pesada bem como no fabrico que exportou para a Ásia. Mas manter sempre a aposta na inovação e desenvolvimento como factor distintivo do restantes blocos. 

A globalização morreu!