Alguns apontamentos sobre o armazenamento de eletricidade

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Embora o uso de armazenamento de eletricidade esteja a aumentar, globalmente, em 2022, da instalação de aproximadamente 192GW de solar e 75GW de eólica, apenas uma muito pequena parte (16GW) recorreu a sistemas de armazenamento.

Saliente-se que para se atingiram as metas estabelecidas para 2050 (Net Zero) esse armazenamento na rede deverá ser em média de 120 GW globalmente anualmente até 2030. Isto será muito importante para aumentar a resiliência do sistema elétrico e a sua fiabilidade, nomeadamente em países em desenvolvimento.

Nem só de barragens (bombagem), hidrogénio ou outros vetores energéticos (obtidos por via renovável) e baterias vive o armazenamento. Existem vários sistemas de armazenamento de eletricidade, mas nos últimos tempos tem havido uma atenção especial aos que se baseiam na chamada bateria de Carnot. Esta bateria é um tipo de sistema de armazenamento de energia que armazena eletricidade sob a forma de energia térmica. Durante o processo de carregamento, a eletricidade é convertida em calor e mantida em armazenamento de calor. Assim as baterias de Carnot são uma nova e eficiente opção para sincronizar as energias solar e eólica com a procura da rede elétrica, armazenando eletricidade sob a forma de calor e alcançando até 70% de recuperação do excedente de eletricidade renovável. Em vez de armazenar a eletricidade usando baterias comuns, que são muito caras, ou mesmo em baterias de fluxo.

Saliento aqui um estudo que a ADENE, através do Observatório da Energia, encomendou à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e ao Instituto Superior Técnico (IST), sobre o potencial de armazenamento de energia em Portugal. Este estudo foi igualmente desenvolvido em articulação com a Direção-Geral de Energia e Geologia e com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Intitulado “Armazenamento de energia em Portugal”, este estudo faz um exaustivo levantamento das várias tecnologias existentes no nosso país e, simultaneamente, traça cenários, tendo por base, o expectável crescimento das energias renováveis nas próximas décadas.

Será assim possível que o excesso de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis em determinadas alturas, possa ser armazenada para uso em períodos de elevada procura e preço, ou de baixa ou nula incidência solar ou vento, por exemplo.

Armazenar formas de energia para quando necessário não é um conceito novo, mas torna-se mais crítico num mundo cada vez mais eletrificado. O armazenamento permite encontrar os melhores momentos para enviar a eletricidade de volta à rede. Reforçar o armazenamento energético é garantir a flexibilidade de uma rede elétrica focada nas renováveis.

Tornar os sistemas de armazenamento de eletricidade como uma tendência dominante e corrente será, por isso, o que habitualmente se designa por game changer. Provocará um mais abrangente acesso a esse tipo de energia e aumentará o uso de energia renovável, contribuindo acentuadamente para a tão necessária descarbonização.

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