Além do diploma: o segredo para uma integração bem sucedida

Por Patrícia Soares, Departamento de People da Critical Software

As vantagens são inúmeras, o impacto da inteligência artificial (IA) na automatização e diminuição do erro tem sido largamente debatido pelas organizações. Ainda assim, a euforia da IA não deve gerar o desinvestimento naquilo que ainda é central em qualquer empresa – as pessoas e as suas soft skills. Nenhuma cultura corporativa sobrevive sem profissionais realizados, sendo crucial nutrir o capital humano e contribuir ativamente para a integração e desenvolvimento profissional dos colaboradores sem descurar a individualidade de cada um.

Num workshop de preparação de um CV de sucesso, no âmbito de um programa de formação de jovens prestes a entrar no mercado de trabalho, alguém questionava a relevância das soft skills. A pergunta não é surpreendente, considerando o contexto atual, e a nova geração que já cresceu neste mundo imediato e às vezes um pouco “robotizado”. Mas não deixa de ser preocupante esta desvalorização por aquilo que nos torna humanos e pode ser essencial ao nosso bem estar no local de trabalho.

Para uma empresa que desenvolve há décadas software para grandes indústrias como a aeronáutica, ferroviária, saúde ou banca, as soft skills são tão importantes quanto as competências técnicas e, em muitos casos, até determinantes. Equipas de profissionais que trabalham as suas soft skills são a chave para a entrega de um trabalho de excelência. É impossível dissociar um bom produto ou relação de negócio da capacidade de comunicar cara a cara, ter espírito crítico, empatizar com o outro ou lidar com os desafios com inteligência emocional.

Ao longo das centenas de entrevistas que já realizei a recém-licenciados, é notório o impacto positivo que o investimento no desenvolvimento de soft skills tem, quando trabalhado no contexto académico dos candidatos. Este é um dos momentos mais importantes do processo de recrutamento, onde queremos conhecer um futuro colega e onde os candidatos nos avaliam como potenciais empregadores, sendo uma oportunidade única para a criação de uma boa primeira impressão para ambas as partes.

Para além das competências tecnológicas, alinhadas com as necessidades de cada projeto, para muitas empresas o perfil comportamental dos candidatos também é avaliado, e procura-se que faça match com a cultura e valores da organização. Numa entrevista de emprego, isso começa logo na capacidade de comunicação do candidato e como faz o seu pitch, falando sobre o seu percurso e ambições de forma assertiva.

Outras competências valorizadas são o trabalho em equipa, a gestão de conflitos e a capacidade de saber pedir ajuda em momentos decisivos, algo que avalio ainda no processo de entrevista por forma a evitar um desalinhamento de expectativas, tendo em conta a realidade da empresa.

Num perfil júnior, estas características são determinantes para um bom processo de integração e é algo que deve desde logo começar a desenvolver-se em vários contextos da vida pessoal e académica. Se tivesse que dar dois conselhos sobre o processo de preparação para uma entrevista, diria para começarem por trabalhar o autoconhecimento e, posteriormente, construírem um bom CV, que é a base de quem procura o melhor fit para as oportunidades de uma empresa. Mais do que CVs brilhantes, queremos garantir profissionais aptos para o mundo acelerado do trabalho em que o stress diário não interfere com o seu bem estar pessoal.

A responsabilidade de munir os jovens de soft skills adequadas para o mercado de trabalho não deve recair apenas sobre as empresas. Na verdade, as universidades devem oferecer uma formação que vá além das competências técnicas, especialmente face às recentes transformações do mercado de trabalho, onde as empresas e colaboradores tendem a valorizar o trabalho híbrido. Este novo paradigma significa uma maior flexibilidade para empresas e colaboradores, mas aprofunda também  a necessidade de desenvolver soft skills adaptadas à comunicação digital e à distância, como o feedback recorrente e construtivo, por exemplo.

Finalmente, as empresas podem complementar este esforço das universidades, no sentido de valorizar o seu capital humano, através da oferta de programas de formação e desenvolvimento profissional, alinhados com a sua cultura organizacional. Certas empresas apostam na criação de departamentos dedicados exclusivamente à formação, que orientam os colaboradores para o desenvolvimento e melhoria de novas competências, técnicas ou pessoais. Os programas de mentoring, onde colegas mais experientes acompanham outros, são outra estratégia eficaz para o desenvolvimento de profissionais completos e felizes dentro das empresas.

Assim, a normalização da utilização de ferramentas de IA no local de trabalho deverá ser acompanhada pelo aperfeiçoamento ativo de características humanas fundamentais. Até para as grandes empresas tecnológicas, o surgimento de tecnologias mais avançadas pode ser o pretexto perfeito para desenvolver aquilo que nos une como humanos.

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