A resposta à ameaça da GenAI: lutar, fugir ou congelar?

por Mark Rodseth, VP of Technology, EMEA da CI&T

Desde a ‘explosão’ da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) no início do ano passado, a indústria digital tem estado a enfrentar as implicações desta disrupção tecnológica tão significativa. Prevendo-se que o investimento global em IA vá aumentar para mais de 750 mil milhões de euros em 2030, é expectável que as empresas de todas as dimensões se deparem tanto com oportunidades como com ameaças.

A IA tem potencial para transformar totalmente o panorama do mercado, afastando os atuais líderes de mercado ou até levando as empresas a ter de se esforçar para se manterem relevantes. O segredo para a sobrevivência e para o sucesso será a capacidade de adaptação rápida e de tirar partido da IA. Recentemente, a Gartner descobriu que 30% dos projetos de GenAI vão ser abandonados até 2025, mas apenas 7% das empresas sentem que estão a atingir ou a superar os seus objetivos de transformação digital. Assim sendo, quais são os fatores que contribuem para esta lacuna?

À medida que a evolução da IA continua a um ritmo acelerado, nem tudo será perfeito – e precisamos de reconhecer, nesta fase, tanto o seu potencial como as suas armadilhas. Um relatório recente da thinktank chegou, inclusivamente, a solicitar um sistema para registar a utilização indevida e o mau funcionamento da IA, para aprender com a tecnologia e tirar o melhor partido dela. Não podemos, contudo, ficar à espera que os governos e os decisores políticos ajam; as organizações precisam de aplicar as suas próprias salvaguardas e um sentido crítico rigoroso para realmente poderem colher os benefícios da IA.

Ao considerar uma ameaça, as organizações geralmente respondem de uma das três formas: Lutar, Fugir ou Congelar (“Fight, Flight or Freeze”). Vejamos como isto se aplica no caso da IA.

Lutar

As organizações em modo “Luta” são proativas na adoção da GenAI. Reconhecem o seu potencial transformador e estão empenhadas em integrá-la nas suas operações. De facto, quatro em cada cinco empresas esperam que a IA tenha um impacto positivo nos negócios, e três quartos já começaram a utilizar a IA Generativa ou planeiam fazê-lo este ano.

As empresas bem-sucedidas tendem a adotar uma abordagem altamente coordenada e focada no valor, criando grupos de trabalho dedicados à GenAI para garantir que todas as iniciativas se alinham com objetivos estratégicos mais amplos. Isto implica um planeamento minucioso, a definição de prioridades em áreas de grande impacto e a distribuição adequada de recursos. Começar com experiências pequenas e específicas permite aprender rapidamente, ganhar tração inicial e demonstrar o valor da tecnologia. Dessa forma, é possível avaliar o retorno do investimento, e também mostrar valor aos stakeholders.

Contudo, as organizações em modo “Luta” sofrem frequentemente problemas como a liderança desalinhada ou desconectada. Sem uma visão unificada, os diferentes departamentos podem dar seguimento aos seus próprios projetos de GenAI de forma descoordenada, conduzindo a ineficiências e ao desperdício de recursos. Para além disso, a falta de métricas de sucesso claras pode resultar em ambiguidade sobre o impacto e o valor das iniciativas, tornando difícil justificar o investimento.

Fugir

No modo “Fuga”, as organizações apresentam uma atitude mais cautelosa ou resistente em relação à adoção da GenAI. Algumas veem-na como uma distração das suas metas e objetivos principais, receando que possa desviar recursos e o foco dessas atividades. Outras estão céticas quanto ao potencial valor que a GenAI pode acrescentar aos seus produtos ou serviços existentes, duvidando da maturidade da tecnologia ou da relevância para a sua indústria em particular.

Outra preocupação comum é o medo da perda de empregos: os colaboradores podem recear que a automatização e a eficiência trazidas pela GenAI ameacem a sua segurança no emprego. Por outro lado, algumas empresas consideram excessivo o ‘hype’ em torno da GenAI, preferindo esperar que seja utilizada mais amplamente antes de investir nela. Por último, as preocupações com os riscos associados à GenAI, incluindo considerações éticas e o potencial de utilização indevida, também podem levar a uma reação de “Fuga”.

Embora estas preocupações sejam válidas até certo ponto, poderão sabotar o futuro das empresas, se contribuírem para que estas deixem de explorar ativamente o potencial da GenAI.

Congelar

As empresas em modo “Congelar” são aquelas que, apesar de reconhecerem o valor da GenAI, se veem incapazes de avançar devido a várias barreiras internas, o que pode acontecer por diversas razões.

Algumas podem estar já a levar a cabo outras iniciativas de transformação críticas que têm precedência, como tornarem-se mais ágeis ou mudarem para uma abordagem orientada por produto ou por dados. Para além disso, os silos organizacionais e a utilização de tecnologia desatualizada podem impedir o progresso. A fragmentação entre equipas pode resultar na duplicação de esforços, em estratégias inconsistentes e na falta de uma compreensão partilhada dos benefícios da GenAI, pois uma infraestrutura antiga exigiria atualizações dispendiosas e demoradas para a acomodar.

As equipas legais e de conformidade também podem impor diretrizes rigorosas ou proibições totais à exploração da GenAI devido a preocupações com a privacidade dos dados, a propriedade intelectual ou a conformidade regulamentar.

Definir um plano de ação eficaz

Tendo em conta estas modalidades de resposta à GenAI, e partindo do princípio de que é necessário agir, o que é que as organizações precisam, então, de fazer para passar à ação de forma a gerar valor?

Para incorporarem a GenAI eficazmente, as organizações devem começar por educar os stakeholders sobre o seu potencial e riscos. É fundamental criar uma equipa centralizada para gerir as iniciativas de GenAI, e começar com projetos-piloto pequenos e específicos para demonstrar o seu valor e viabilidade. A implementação de métricas para acompanhar e mostrar o impacto destes esforços também pode ajudar a garantir maior adesão por parte dos stakeholders.

Dando estes pequenos (grandes) passos iniciais, as organizações podem desenvolver um plano de ação eficaz para tirar partido do potencial transformador da GenAI. Vai mesmo querer ficar para trás?

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