A “novela” da aviação em Portugal

Por Bernardo Corrêa de Barros, Presidente do Turismo de Cascais

 

Muito se tem falado da TAP, do novo Aeroporto de Lisboa, da GroundForce, dos constrangimentos futuros do espaço aéreo de Lisboa e de todos os problemas relacionados com a aviação em Portugal. Aos olhos do mundo, algo vai muito mal no reino de sua majestade.

Os problemas são constantes e ao que parece a “novela” ainda não vai a meio… as dúvidas mantêm-se quanto à localização do novo aeroporto, a TAP necessita do aval da europa para se manter em operação, a RYANAIR vem reclamar slots não utilizados pela TAP, a Groundforce foi declarada insolvente pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, a confusão continua instalada, os anos vão passando, e mais uma vez…ninguém se entende.

A tudo isto acrescem as limitações futuras ao espaço aéreo de Lisboa devido ao ruído, limitações estas que vão afetar sobretudo os voos noturnos, aqueles que fazem de Portugal um HUB para a América do Norte e do Sul, reduzindo em muito o número de passageiros que chegam à Capital, fazendo com que os números de turistas alcançados em 2019 sejam apenas uma miragem, assim que estas medidas entrarem em vigor.

Bem sei que a questão da TAP é puramente ideológica, as limitações do Aeroporto também parecem ser.

Nas questões da TAP, temos de um lado os que defendem a companhia de bandeira, que dizem fundamental para as ligações ao mundo lusófono, detida pelo Estado, fazendo do Estado o único responsável pela gestão… algo pouco usual no mundo de hoje. Esta decisão do Estado, em reverter a privatização penalizou a companhia, fez com que a mesma fosse impedida de concorrer ao “apoio de emergência e liquidez”, fez com que perdesse competitividade, fez com que perdesse empregos, fez da TAP exatamente o que é aos dias de hoje… frágil e dependente da Europa…do outro lado, temos os que acreditam no mercado.

Nas questões do aeroporto, o CEO da ANA veio recentemente falar sobre o novo aeroporto, sobre prazos e constrangimentos financeiros. Segundo o próprio, se as obras fossem hoje iniciadas, só em 2025/26 ou 2027 o aeroporto estaria concluído. Acontece que as obras não vão começar hoje e não vão começar amanhã.

Infelizmente ainda não vi ninguém vir a público falar em soluções alternativas para aumentar o fluxo de chegadas a Lisboa. Parece que ninguém acredita na retoma da aviação e do turismo a nível global.

Acontece que, se retomarmos aos níveis de 2019 e se forem limitados os voos noturnos em Lisboa, necessitaremos de uma maior capacidade em Lisboa, capacidade esta que não existe. A única possibilidade a curto prazo de libertar slots em Lisboa é desviar os aviões executivos para o Aeroporto de Cascais, o que muitos conheciam como Aeródromo de Tires.

Para quem não sabe, o Aeroporto de Cascais está integrado na rede Nacional de Aeroportos e tem capacidade para albergar quase a totalidade do tráfego executivo que hoje aterra em Lisboa.

Para quem não sabe, um avião executivo necessita do dobro do espaço aéreo quando está a aterrar e necessita do dobro do tempo em pista, constituindo uma séria limitação a um Aeroporto como o de Lisboa… espantem-se… existe um aeroporto vocacionado para a aviação executiva a 20 km. Necessitaríamos apenas de uma reorganização de espaço aéreo, já estudada, já apresentada e que a todos beneficiava, mas ao que parece a questão é novamente ideológica.

Necessitamos de uma vez por todas de seriedade e frieza na análise às questões relacionadas com o Aeroporto de Lisboa. Soluções urgem e estão à vista de todos.

Não podemos colocar a ideologia à frente da economia. Não podemos colocar o coração à frente dos números, das empresas e das pessoas. Temos de uma vez por todas fazer acordos a longo prazo, que envolvam os partidos no arco da governação, a bem da nação e a bem do país, salvaguardando o turismo e os empregos que esta atividade gera.

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