A IA, as alterações climáticas e as decisões corajosas

Por Victor Moure, Country Manager Portugal, Schneider Electric

Depois de quase três anos de negociações, em fevereiro a União Europeia aprovou a primeira lei do mundo sobre a Inteligência Artificial (IA). Um acordo com pontos positivos e negativos, mas, sem dúvida, um passo histórico para a regulamentação da IA a nível global, e também para desbloquear todo o seu potencial.

A Inteligência Artificial está já muito presente nas nossas vidas, e entra cada vez mais no nosso quotidiano – e isso é verdade também para as empresas, instituições e setores do mercado, desde a saúde às finanças, passando pela produção industrial e o entretenimento.

A IA está a expandir-se, a desafiar-nos e a tornar-se no principal aliado de muitas empresas e setores para melhorar a produtividade e – talvez de forma menos notória, mas sem dúvida mais importante ainda – para combater as alterações climáticas. Sim, a IA é utilizada para ajudar a combater as alterações climáticas, um dos grandes desafios que enfrentamos atualmente: o de reduzir as emissões globais em 60% até 2035, tal como estabelecido na última Cimeira do Clima.

A este propósito, em janeiro a World Meteorological Organization confirmou uma péssima notícia: em 2023, as temperaturas globais ultrapassaram todos os recordes e quase superaram o 1.5ºC dos níveis pré-industriais. O que é que isto significa? Que, apenas num ano, estivemos perto de atingir o limite definido a longo prazo – e receio que panorama para este ano de 2024 não seja muito diferente.

Num momento em que as prioridades empresariais são complexas, as organizações responsáveis estão a focar-se no combate às alterações climáticas através da digitalização. Neste contexto, a IA é fundamental na transição para um futuro com baixas emissões de carbono. De acordo com o Fórum Económico Mundial, as empresas que integram a transformação digital e sustentável nas suas operações e cadeias de valor têm 2.5% mais probabilidades de sucesso.

Perder o medo e transformar a IA numa aliada

Está na altura de investir na IA, reverter as alterações climáticas e tomar decisões corajosas – e é por isso que vale a pena desmistificar a IA. Esta não pode substituir o ser humano (pelo menos por enquanto); contudo, consegue oferecer excelentes previsões e oportunidades para otimizar, por exemplo, a nossa energia. A IA consegue ajudar-nos a tomar decisões mais inteligentes, a assumir o controlo da energia, a ser mais eficientes e a tirar o máximo partido dos nossos recursos, graças a factos concretos e a uma enorme quantidade de dados. Saber tirar partido destes dados é o que vai diferenciar as empresas no mercado, e ajudá-las a resolver o dilema energético, porque a IA pode transformar todo um setor graças a três pilares fundamentais: a eficiência operacional, a eletrificação e a digitalização.

Estes três pilares já podem ser aplicados à gestão energética dos edifícios, que são responsáveis por 44% das emissões mundiais, segundo a Agência Internacional da Energia. Como é que isto acontece? A resposta é simples: graças à IA. Há edifícios em França que já são neutros em carbono – como por exemplo o IntenCity, um edifício inteligente que consome 10 vezes menos energia do que a média dos edifícios europeus. Conta com 4.000 metros quadrados de fontes renováveis, equipados com algoritmos de controlo preditivo que permitem um autoconsumo otimizado. É um edifício preparado para a rede inteligente e um verdadeiro exemplo da paisagem energética do futuro. Contudo a IA não é o futuro; ela já está no nosso presente, e por isso não faz sentido continuarmos a desperdiçar o seu potencial.

O paradoxo da IA e do consumo de energia

Paradoxalmente, a IA ajuda-nos na gestão da energia, mas também requer uma grande quantidade de energia para funcionar. Gera, por isso, um grande debate, por exemplo no que toca ao consumo de energia dos Data Centers. Este é um desafio que temos de enfrentar, com infraestruturas capazes de suportar a IA, mas também totalmente otimizadas para a mesma. Como o conseguimos? Através da própria IA, combinada com o Machine Learning, que vão ajudar a reduzir o consumo energético e a melhorar a eficiência operacional dos Data Centers. Esta é uma realidade que não nos podemos dar ao luxo de perder.

Graças às suas características diferenciadoras – localização privilegiada, abundância de energias renováveis, custos de terreno e energia competitivos, e ainda o apoio sólido do governo –, Portugal encontra-se numa posição privilegiada para liderar a crescente procura por Data Centers, o que representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento económico e tecnológico do país, que se torna assim mais atrativo para o investimento em infraestruturas digitais.

Estamos cada vez mais conscientes de que aproximar os recursos do local onde são necessários é a abordagem mais acertada para enfrentar muitos dos desafios digitais atuais – e é esse o caso da IA. A instalação crescente de Data Centers otimizados, eficientes e ambientalmente responsáveis em Portugal vai posicionar-nos como líderes no setor, criar novas oportunidades económicas, atrair investimento e talento e consolidar a nossa posição como ponto estratégico para a tecnologia e o desenvolvimento sustentável.

Não tenho dúvidas de que a gestão eficiente dos Data Centers através da IA será uma decisão corajosa e comprometida com o combate às alterações climáticas.

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