A escola como motor da transição energética

Por Sandra Aparício, Responsável da Fundação Galp

A necessidade de repensar a forma como preparamos o nosso futuro enquanto sociedade é hoje uma verdade inquestionável. Já ninguém coloca em causa a urgência de pensar em soluções sustentáveis e de escolher caminhos que garantam um equilíbrio saudável entre os recursos do planeta e o nosso bem-estar civilizacional. É uma preocupação transversal, que entrou no radar dos decisores políticos, das estratégias empresariais e também no quotidiano da maioria dos cidadãos.

Sabemos, no entanto, que existe ainda um caminho a percorrer para que este mindset seja reforçado e que a mudança ocorra de forma mais célere. Não é matéria de opinião, são os factos que o indicam: de acordo com a Avaliação de Desempenho Ambiental da OCDE de 2023, Portugal está aquém na percentagem (28%) de compostagem e reciclagem no tratamento total dos resíduos urbanos (a média da OCDE é 34%); na percentagem de 28% emissões de CO2 superiores a 60 euros por tonelada (a média da OCDE é de 15%); e no orçamento de Investigação & Desenvolvimento dedicado ao ambiente e à energia: apenas 4,3% do total da despesa pública com I&D (a média da OCDE é 6,4%). Diz ainda a OCDE que Portugal “regista um atraso relativamente à economia circular”, com a geração de resíduos urbanos a crescer a ritmo mais rápido do que a economia.

Também o 2024 European Skill Index, que mede o desempenho dos sistemas de competências dos países da União Europeia e avalia a educação, formação e aprendizagem ao longo da vida na população, indica que Portugal se encontra na 24.ª posição, num total de 31 países da UE. Será certamente difícil mudar este cenário rapidamente, mas é imprescindível investir nesse objetivo a médio/longo prazo, criando as bases para que a educação seja o pilar da transformação que todos desejamos.

Essa foi, de resto, a ambição da Comissão Europeia quando apresentou em 2020 a nova European Skills Agenda, com um plano de cinco anos que visava, entre outros pontos, reforçar a competitividade sustentável – tal como estabelecido no Pacto Ecológico Europeu – e garantir a equidade social, pondo em prática o primeiro princípio do Pilar Europeu dos Direitos Sociais: o acesso à educação, à formação e à aprendizagem ao longo da vida para todos, em toda a UE.

Todos concordamos que o papel da educação na formação de futuros líderes e de agentes de mudança é demasiado importante para não ser colocado no centro da nossa ação. Todos devemos evoluir, ganhar novas competências para cumprir a jornada a que nos propomos. E as gerações mais jovens são, por maioria de razão, parte integrante das soluções para o futuro. Devemos, por isso, assumi-los como um dos motores do desenvolvimento do país e, especificamente, da transição energética. O que pressupõe, evidentemente, que os alunos e as escolas sejam envolvidos o mais cedo possível nas batalhas que todos temos pela frente.

Se consumado de forma eficaz, este envolvimento permite não só promover uma compreensão mais profunda e bem informada das questões prementes que o nosso planeta enfrenta, como também capacitar as gerações jovens para a importância de serem agentes ativos na construção do futuro mais sustentável que todos desejamos. Mas esta é uma jornada conjunta, onde todos temos a nossa quota-parte de responsabilidade. Cientes disso, na Fundação Galp procuramos diariamente acelerar a transformação sustentável das comunidades onde estamos presentes, com forte incidência junto dos mais jovens: desde 2010, já impactámos 2,2 milhões de professores e alunos, 21 mil escolas e envolvemos mais de 750 voluntários.

Foi este o mote que levou a Galp e a sua Fundação a idealizar o projeto Future Up, com a dupla vertente das aulas Energy Up – tendo sido lecionadas já mais de 5.300 – e do Prémio Escola Energy Up. São duas iniciativas que corporizam o nosso compromisso com a educação de qualidade – que é um dos três pilares estratégicos da Fundação Galp – e que sublinham o nosso posicionamento junto da comunidade escolar, na promoção de uma transição energética sustentável, numa jornada partilhada, capacitando, apoiando e trabalhando lado a lado com a sociedade.

No que respeita ao Prémio Energy Up, o histórico das três edições já realizadas permite-nos enfatizar, com orgulho e sem falsas modéstias, que é possível passar da teoria à prática, e estimular os alunos para uma compreensão mais tangível dos desafios e oportunidades associados à transição energética. Não apenas aprendem – no abstrato – os conceitos, as razões e as causas deste movimento, como são desafiados a testar, na prática, alguns caminhos e soluções, através de projetos e propostas muito concretos, assentes em eficiência energética ou uso de energias renováveis, e com impactos muito diretos nas suas escolas ou até nas suas salas de aulas.

Ao trabalharem em conjunto, com os colegas e professores, em temas que impactam de forma tão direta a sua vida, alargam horizontes em relação ao tema da energia, cultivam hábitos de pensamento crítico e estimulam a criatividade e o empreendedorismo, na procura de soluções inovadoras e passíveis de terem aplicação em benefício da comunidade.

Não menos importante, estes projetos cumprem o propósito de colocá-los no centro da ação, incutindo-lhes a premissa de serem, desde cedo, agentes ativos na transformação que todos desejamos: primeiro na sala de aula, depois na escola e na comunidade, e amanhã, assim o desejamos, com impacto na sociedade em geral.

Professores, alunos e toda a comunidade escolar, aceitam o desafio? Ele está literalmente à distância de um clique, até 19 de abril.

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