Zelensky alerta que Coreia do Norte vai enviar mais 100 mil soldados para a guerra e pede maior apoio militar da Europa

No marco dos 1.000 dias desde o início da invasão russa à Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky proferiu um discurso contundente ao Parlamento Europeu, no qual alertou para a possibilidade de uma intervenção massiva da Coreia do Norte no conflito e apelou a um reforço imediato do apoio militar europeu.

Zelensky afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, já mobilizou 11 mil soldados norte-coreanos para as proximidades da Ucrânia e alertou que este contingente poderá crescer para até 100 mil soldados. Embora não tenha apresentado provas concretas no seu discurso, estas declarações corroboram uma reportagem recente da Bloomberg, que citou fontes anónimas indicando que Pyongyang estaria preparada para reforçar as forças russas com dezenas de milhares de militares.

A Coreia do Norte, historicamente isolada no cenário internacional e sob sanções severas, tem vindo a reforçar os laços diplomáticos e militares com Moscovo. Em setembro de 2023, Kim Jong-un encontrou-se com Putin num raro encontro presencial na Rússia, durante o qual as partes discutiram possíveis trocas de armas e apoio mútuo. Observadores internacionais têm alertado que o regime de Kim poderá utilizar este conflito para demonstrar lealdade à Rússia e obter benefícios estratégicos, como tecnologia militar avançada.

Caso a mobilização dos 100 mil soldados se concretize, seria uma das maiores intervenções militares estrangeiras no conflito, o que marcaria uma escalada significativa e colocaria novos desafios à resistência ucraniana e à estabilidade na região.

Vários analistas consideram que a entrada de um contingente norte-coreano de tal magnitude poderia alterar significativamente o equilíbrio de forças no terreno. A Rússia, apesar do seu poderio militar inicial, enfrenta um desgaste considerável após quase três anos de guerra. Um reforço com tropas experientes e disciplinadas, como são frequentemente descritas as forças norte-coreanas, poderia revitalizar as ofensivas russas e prolongar o conflito.

Para Zelensky, este cenário torna ainda mais urgente a intensificação do apoio militar por parte da Europa e dos aliados ocidentais. “Putin está focado em vencer esta guerra. Ele não irá parar por conta própria. Quanto mais tempo tiver, piores serão as condições,” alertou o presidente ucraniano.

O discurso de Zelensky foi recebido com aplausos pela maioria dos eurodeputados, mas o presidente ucraniano não poupou críticas aos aliados que, na sua visão, têm sido lentos em responder às necessidades de Kyiv. Apontando, ainda que indiretamente, para o chanceler alemão Olaf Scholz, Zelensky afirmou: “Enquanto alguns líderes europeus pensam em eleições ou outras questões, Putin está focado em avançar.”

A Alemanha tem sido alvo de críticas pela sua relutância em fornecer armas de longo alcance, como os mísseis Taurus, enquanto países como o Reino Unido e os Estados Unidos já autorizaram o uso de armamento semelhante para atingir alvos estratégicos em território russo.

No entanto, há sinais de que a Europa pode intensificar o seu apoio. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que o Reino Unido reconhece a necessidade de “redobrar” o apoio à Ucrânia, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Margus Tsahkna, sugeriu que a Europa deve estar preparada para enviar tropas ao terreno caso um eventual acordo de paz mediado por Donald Trump exija garantias de segurança para Kyiv.

A parceria entre Rússia e Coreia do Norte não é nova, mas a dimensão do apoio militar relatado levanta preocupações significativas. Para a Coreia do Norte, enviar tropas para a Ucrânia seria uma oportunidade de reforçar a sua aliança estratégica com Moscovo, enquanto desafia abertamente o Ocidente. Além disso, este movimento poderia fortalecer a posição de Kim Jong-un no cenário internacional, mostrando a capacidade do regime de influenciar eventos globais, mesmo à distância.

A possível mobilização de 100 mil soldados também poderia gerar tensões adicionais na Ásia, especialmente com países como a Coreia do Sul e o Japão, que têm monitorizado de perto a aproximação entre Pyongyang e Moscovo.

Com a guerra a entrar no seu 1.000.º dia e novas ameaças a surgir, como a mobilização de forças norte-coreanas, a Ucrânia enfrenta um momento decisivo. Zelensky apelou a uma Europa unida, capaz de fornecer apoio militar imediato e aumentar a pressão sobre a Rússia, tanto no campo de batalha quanto no cenário económico, através de sanções mais rigorosas.

“O petróleo é o sangue que alimenta o regime de Putin. Enquanto estes navios [-tanque de petróleo não regulamentados] operarem, Putin continuará a matar,” afirmou Zelensky, se forma a sublinhar a necessidade de cortar as fontes de financiamento do Kremlin.

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