XX Conferência Executive Digest. A responsabilidade das empresas ESG na Caixa
A 20.ª Conferência da Executive Digest, subordinada ao tema “Os Imperativos da Responsabilidade Social nas Empresas – Sociais, Ambientais, Corporate, Empresariais”, reuniu um vasto grupo de especialistas para debater e partilhar desafios e oportunidades que esta temática encerra.
Por António Sarmento
Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos, foi o primeiro keynote speaker da conferência e abriu o tema dizendo que a questão da responsabilidade das empresas é um tema «que está na moda», e o desafio dos gestores é «passar da moda à materialização». Para o gestor, existem diversos drivers para esta mudança relativa ao ESG (Environmental, social and corporate governance), e alguns deles são bastante recentes, como a transição demográfica e energética, as alterações climáticas ou mesmo a procura de novos estilos de vida.
Paulo Macedo citou um survey do World Economic Forum realizado durante a pandemia que mostra que as preocupações das pessoas são questões sanitárias, desemprego e outros. No entanto, isto não corresponde aos maiores riscos da Humanidade, que dizem respeito ao meio ambiente, estando até acima dos relacionados com cibersegurança. Isto faz com que muitas vezes o ESG seja associado apenas ao ambiente. O gestor da CGD faz questão de afirmar que as três componentes interessam ao banco público.
«A banca em breve terá que ter a sua carteira de crédito classificada de acordo com critérios ESG. A generalidade dos fundos de investimento, à data de hoje, está classificada com critérios ESG». Das principais práticas, e de acordo com estes diferentes níveis, o ESG leva a muitas actividades na empresa: reduções de custo (por exemplo, a substituição da iluminação por LED); as questões de Governance, relativamente à diversidade e ao género; a obrigatoriedade das grandes empresas em apresentar um relatório sobre a diversidade de género e as diferenças salariais.
Na banca, tem especial relevância o critério da sustentabilidade aplicado ao financiamento e ao investimento. São estas as duas grandes áreas em que a banca pode dar uma resposta. Um financiamento sustentável é aquele que tem a componente tipicamente financeira, uma componente relativamente a risco e rentabilidade, e depois tem um conjunto de indicadores ESG. «Desta combinação podemos ter uma análise que nos leve a uma melhor gestão de risco e a um impacto mais positivo na Sociedade».
A Governance é um aspecto essencial e as empresas que a sabem gerir têm uma vantagem competitiva grande sobre as outras e têm um interesse para a Sociedade bastante significativo. Outra questão, é saber se as empresas têm a sua missão clara, o seu Propósito e se estão a criar valor. «Quando existe uma organização que pode não ser ser lucrativa é preciso ver a questão da criação de valor. Não é por não ser lucrativa e não ter de dar o resultado que não tem de criar valor».
DESAFIOS
A banca basicamente tem cinco desafios: regulação, rentabilidade, reinvenção, reputação, reconstrução. «Na CGD, em termos de Governance, nós vemos exemplos muito claros e que conhecemos das empresas, desde logo uma estabilidade dos órgãos sociais. Eu diria que um dos aspectos que a banca deveria ‘exportar’ é a questão do Fit&Proper. Ou seja, a selecção do Fit&Proper é uma selecção bastante apertada com critérios de grande rigor, que é sem dúvida positivo porque tem uma análise extrema de conflitos de interesses, tem uma análise extrema do currículo da pessoa e tem uma análise da pessoa individual e de como se enquadra no grupo». Em relação à parte da avaliação, durante o mandato 2017-2020 realizaram-se três processos anuais de reavaliação da adequação colectiva do órgão de administração e do órgão de fiscalização e individual dos seus membros. Sobre o comité de Sustentabilidade, é o órgão consultivo da Comissão Executiva que supervisiona a gestão e orienta a decisão quanto à definição e implementação da Estratégia de Sustentabilidade.
Um banco hoje em dia, ao nível de Governance, responde ao Banco Central Europeu, ao ministério das Finanças, Banco de Portugal, CMVM, etc. A componente social, com mais raízes na prática das empresas, corresponde à responsabilidade corporativa e, portanto, a CGD tem pilares muitos importantes nesta área: Universidades, Culturgest e parte social. «Hoje em dia, o desafio que se nos coloca é a inclusão digital. As pessoas tiveram uma quebra enorme nas idas ao balcão com a pandemia, mas querem claramente contactar com o banco. Aquilo que no passado era a inclusão em termos territoriais hoje há uma obrigação social de inclusão digital. E também uma obrigação com muitos dos stakeholders. A Caixa desenvolveu um programa interno que é pagar a pronto pagamento aos fornecedores. Portanto, todos os serviços que estejam confirmados nós pagamos».
Em termos ambientais, Paulo Macedo explica que conseguiram baixar claramente os consumos de electricidade concentrando vários serviços no mesmo edifício; uma redução do consumo de papel em 90% no ano passado, entre outras acções. Sobre a própria actividade, em fundos de investimento com critérios ESG, a CGD tinha há dois anos 160 milhões de euros. Neste momento, o banco tem quase toda a carteira classificada (98%), que totaliza um valor de quatro mil milhões de euros. «A parte mais recente e aqui pensamos que a Caixa é inovadora é que temos toda a nossa carteira classificada em termos de sustentabilidade. Estamos de facto no tal nível 4 no que é o nosso futuro e o nosso relacionamento futuro com os clientes. Ninguém tem dúvidas de que será obrigatório para um certo nível empresas». Sobre os principais desafios ESG encontram-se o ESG training, Data, Regulação ou ESG Credit. «Eu diria para concluir que nós levamos muito a sério esta classificação ESG em termos daquilo que é o social, o ambiental e o Governance. Entendemos que uma boa resposta tem que ter estas três componentes que têm os seus diferentes níveis. Temos de ter uma ambição onde queremos estar e, portanto, eu diria que as fases não são sequenciais, mas são cumulativas e dentro das possibilidades de cada empresa. Promover estes critérios é aquilo que nós fazemos internamente, também juntos dos nossos clientes (empresas ou investidores); promover um modelo de governação eficiente e ter noção de qual é que é a nossa responsabilidade social. A Caixa tem muito claro que é ter uma intervenção responsável na Sociedade», conclui Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos.