XX Conferência da Executive Digest. O retorno da sustentabilidade

A 20.ª Conferência da Executive Digest, subordinada ao tema “Os Imperativos da Responsabilidade Social nas Empresas – Sociais, Ambientais, Corporate, Empresariais”, reuniu um vasto grupo de especialistas para debater e partilhar desafios e oportunidades que esta temática encerra.

Por António Sarmento

A segunda mesa-redonda, subordinada ao tema “Os investimentos responsáveis têm retorno?”, contou com a presença de Ana Fontoura, Diretora de Responsabilidade Social do Grupo Fidelidade, Cláudia Domingues, Country Communication Manager do IKEA Group, Luísa Pestana, administradora da Vodafone, e Nuno Moreira da Cruz, Executive Director Center for Responsible Business and Leadership da Católica Lisbon. A moderação foi de Maria João Vieira Pinto, Diretora de Redação da Executive Digest.

Nuno Moreira da Cruz recorda que há 10 ou 15 anos, ninguém falava de ESG. O assunto terá aparecido por volta de 2011, quando as empresas começaram a perceber que havia uma emergência climática e desigualdades sociais importantes, o que levava à necessidade de fazer alguma coisa. Surgiram então muitas iniciativas e plataformas, em que as empresas começaram a falar das temáticos onde sabiam que ficariam «melhor na fotografia». Numa segunda fase, que é aquela em que estamos, já existe uma tentativa de standardizar toda a linguagem dos ESG. No entanto, a questão fundamental permanece por resolver: enquanto estivermos a falar de métricas financeiras e não financeiras, nada disto resulta. É preciso colocar o ESG nas contas das empresas. Este é o passo seguinte.

Luísa Pestana afirma que os presidentes da Vodafone Portugal ao longo dos anos sempre foram muito voltados para a comunicação dos valores da empresa e para o alinhamento de todas as políticas financeiras, de marketing, de pessoas, de responsabilidade social. Por isso, a Vodafone Portugal foi uma das primeiras empresas a ter uma política de responsabilidade social e uma estratégia com programas que têm mais de 15 anos e que continuam com resultados concretos. A diversidade, por exemplo, é um dos pilares da política de responsabilidade social da Vodafone.

Ana Fontoura diz que as seguradoras têm vindo a evoluir bastante ao longo dos anos em termos de ESG e destaca a preocupação da Fidelidade com as pessoas. A responsável afirma que a prioridade da Fidelidade é, de facto, as pessoas, tanto ao nível dos clientes, como dos colaboradores. E isso reflete-se na cultura WeCare, que apoia os colaboradores em momentos de grande aflição, refere Ana Fontoura. O prémio Fidelidade Comunidade é um exemplo de iniciativa externa para contribuir para a capacitação e robustez da economia social. Ana Fontoura diz que o retorno destas iniciativas é muitas vezes medido através de surveys, que também servem para ajustar as políticas.

Cláudia Domingues refere que a estratégia da IKEA é global porque o impacto faz-se quando todos percorrem o mesmo caminho. E também quando a sustentabilidade não é uma camada adicional, mas um fator integrado na atividade da empresa. A economia circular é um dos pontos fortes das políticas do ESG, em termos de reutilização de materiais, por exemplo, na produção de produtos. Cláudia Domingues acrescenta que o impacte ambiental tem de ser pensado em toda a cadeia de valor.

ESTRATÉGIA

Para Nuno Moreira da Cruz, a sustentabilidade é a estratégia e quem não percebeu isso está no caminho errado. «É evidente que sem sustentabilidade económica, sem lucro, dificilmente vai haver preocupações sociais e ambientais. Mas é cada vez mais óbvio que sem preocupações sociais e ambientais não vai haver sustentabilidade económica. Esta questão é a questão que a Gestão tem hoje para resolver. As empresas que fazem genuinamente este caminho da sustentabilidade são aquelas que são capazes de criar uma relação emocional com os clientes. Não há tema mais emocional neste momento, porque o temos dentro da casa, com as novas gerações e fora de casa com as emergências climáticas. Esta bandeja tem que ser aproveitada», explica o Executive Director Center for Responsible Business and Leadership da Católica Lisbon.

Luísa Pestana, administradora da Vodafone, explica que a empresa está a comunicar mais e é importante para dar o exemplo. Há muitas coisas que se podem fazer, tanto de programas como nos próprios sistemas internos: nas políticas de recursos humanos, na forma como se desenha o produto e serviços, na política de supply chain ou de forçar os fornecedores a adoptar políticas que fazem sentido – e não contratar serviços a empresas que não cumprem com determinadas políticas fundamentais. «A Vodafone já faz isso há muito tempo e, para nós, é importante que todos esses critérios sejam cumpridos. Tentamos dar o exemplo o mais possível e a nível global porque estas práticas e preocupações fazem parte do dia-a-dia na Vodafone Portugal e em outras operações», sublinha.

Já Cláudia Domingues, Country Communication Manager do IKEA Group, considera que tudo o que diz respeito à cadeia de valor da empresa é muito auditada e regulamentada. «Isto numa perspetiva pedagógica e de usarmos a nossa presença e poder enquanto marca para contaminar positivamente outras empresas para mudarem a sua forma de trabalhar, seja do ponto de vista ambiental, como o lado social».

Ana Fontoura, Diretora de Responsabilidade Social do Grupo Fidelidade, acrescenta que comunica bastante internamente. A companhia tem programas dirigidos ao coloborador para o sensibilizar e enriquecer como pessoa. «E tudo isso que fazemos cria uma onda de contágio, com o facto de as pessoas se sentirem orgulhosas de trabalhar numa empresa que se preocupa com eles e com os outros. Estamos a evoluir cada vez mais e exigimos determinados procedimentos aos nossos fornecedores. A pandemia, por exemplo, fez acelerar uma quantidade de reações das companhias em novos serviços e produtos. As empresas com estas “surpresas” são obrigadas a inovar e a fazer coisas novas».

Desta forma, Nuno Moreira da Cruz explica que «a visão é para onde nós vamos. A missão é o que fazemos. E o Propósito é porque é que nos o fazemos». «Há excelentes empresas em Portugal que agarraram o “porque é que nós existimos” e isso vai muito além do acionista. Esta questão [do Propósito] corre o risco de ser uma buzzword e, portanto, é importante sermos capazes de trazer para dentro do mundo corporativo este factor de união, que se constrói de baixo para cima. As novas gerações têm estes sentimentos da emergência climática e das desigualdades sociais muito metidas dentro do seu ADN», conclui o Executive Director Center for Responsible Business and Leadership da Católica Lisbon.

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