XV Conferência ED: A Inteligência Artificial gera medo
As pessoas sentem medo da Inteligência Artificial, principalmente pelo facto de ameaçar vários postos de trabalho. Mas a componente humana continua a ter relevância e assim se manterá, uma vez que a vertente deontológica, entre outros aspectos, continua a não ser tida em conta pela tecnologia.
A afirmação é de António Ramalho, presidente do Novo Banco, no debate sobre a “Inteligência Artificial e Blockchain – Os mitos, a realidade e as competências necessárias”, no âmbito da XV Conferência Executive Digest. Para o responsável, o receio em torno da tecnologia é normal, mas há que ter em conta a preponderância do factor humano.
«As pessoas têm medo da Inteligência Artificial (IA) e é normal. Temos robôs que trabalham mais depressa que os humanos, 24 horas por dia e não se alimentam. Não há ninguém que não perceba que este cenário coloca trabalhos em risco. Até o de CEO. Mas não são os robôs os grandes decisores. Há anos que facilitam processos, analisam dados, entre outras tarefas. Como humanos, deixámos de criar as melhores respostas e tecnologias como Machine Learning trouxeram outros resultados. Há cada vez mais dados mas as soluções são deontologicamente piores. E, quando somos levados a analisar a estrutura dos modelos de customer journey, em alguns casos, a IA não tira o melhor proveito no que respeita à proposta de valor que chega ao consumidor final», afirma António Ramalho.
Perante esta ameaça, Paula Panarra, directora-geral da Microsoft, explicou, no mesmo painel, que muitas das tecnologias não vão substituir profissões, mas sim tarefas. «Há a libertação de compromissos, como chamadas rotineiras, para que as pessoas tenham mais tempo para upsell, para aumentar o valor das interacções com o cliente. A máquina vai aumentar a importância do homem no relacionamento com os clientes», afirma.
António Ramalho refere que 82% dos CEO’s estão a preocupados com as alterações tecnológicas e assumem adaptar a tecnologia Blockchain aos seus negócios. «Na nossa actividade, já há várias componentes a ser exploradas, relacionadas com a parte mais sexy do modelo – a relação com o cliente – e como podemos ser mais eficiente e a automatizados», refere.
A responsável da Microsoft afirma que já existem várias empresas com projectos pilotos no âmbito da IA e Blockchain. «É sinal de que há um sentido de urgência notório. A mudança vai acontecer, não se sabe ainda quando. Os novos modelos estão prontos, estão à espera de ser adoptados. Há uma preocupação em aderir a novas ferramentas, aumentar a interacção na cadeia de valor. Temos de saber como agilizar a interacção com os fornecedores e clientes finais. Nota-se que já não há uma preocupação tão grande com a redução de custos em prol de uma maior aposta na inovação», afirma Paula Panarra.
Para a implementação destas tecnologias, será necessária a requalificação dos recursos humanos, tendo as empresas o desafio de se adequarem para integrar quatro gerações de colaborares, assegurando que transmitem o conhecimento às pessoas com mais anos de serviço. Acerca da necessidade de novas competências, Luís Correia, vice-presidente do Instituto Superior Técnico, destaca a iniciativa Técnico Mais, destinada a pessoas que já estão no mercado de trabalho mas pretendem actualizar os seus conceitos. «Este programa destina-se a quem quer saber o que é a Blockchain, Data Science, Machine Learning, entre outros temas. Queremos actualizar essas pessoas para que consigam perceber estes novos vocabulários», explica.
Quanto ao futuro, existe uma preocupação em torno das soluções desenvolvidas para as empresas, nomeadamente do que respeita à regulação. Actualmente, ainda não existe, de forma a potenciar a inovação e a diminuir restrições, mas a situação acabará por mudar. «Temos de perceber como iremos assegurar o futuro das tecnologias. Apurar se são intrusivas, seguras, de que forma são obtidas e se respeitam factores como a privacidade e segurança», finaliza Paula Panarra.
Texto de Rafael Paiva Reis