Xi Jinping adverte primeiro-ministro neerlandês que restrição no acesso a tecnologia não impede avanço da China

O Presidente chinês, Xi Jinping, disse esta quarta-feira em Pequim ao primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, que as tentativas de restringir o acesso da China a tecnologia avançada não vão impedir o progresso do país.

Os Países Baixos impuseram requisitos de licenciamento de exportação em 2023 para a venda de maquinaria utilizada no fabrico de semicondutores avançados. A medida foi tomada depois de os Estados Unidos terem bloqueado o acesso da China a ‘chips’ e ao equipamento necessário para os fabricar, invocando preocupações de segurança.

Washington instou os seus aliados a seguir o mesmo exemplo.

Nas declarações que proferiu por ocasião da visita ao país de Rutte, Xi Jinping não mencionou o caso específico da maquinaria para a produção de ‘chips’, mas disse que a criação de barreiras científicas e tecnológicas e a fragmentação das cadeias industriais e de abastecimento conduzirão à divisão e ao confronto, segundo avançou a televisão estatal CCTV.

“O povo chinês também tem o direito legítimo ao desenvolvimento e nenhuma força pode travar o ritmo do desenvolvimento científico e tecnológico e o progresso da China”, afirmou o líder chinês, ainda citado pela CCTV.

Mark Rutte e o ministro do Comércio, Geoffrey van Leeuwen, também devem discutir as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza durante as reuniões mantidas com Xi e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, segundo um comunicado do Governo neerlandês.

A China assumiu uma posição neutra na guerra na Ucrânia, dando à Rússia cobertura diplomática e apoio económico através do comércio. Esta posição tem irritado e frustrado grande parte da Europa, uma aliada de Kiev que vê a Rússia como um agressor.

“Vou tentar transmitir como é importante para os Países Baixos, para a nossa segurança, que a Rússia não ganhe isto, que a Rússia perca”, disse Rutte, numa mensagem de vídeo gravada numa rua de um bairro histórico em Pequim.

No vídeo, publicado na rede social X, Rutte disse ainda que vai abordar os direitos de propriedade intelectual, os subsídios e os Direitos Humanos.

A empresa neerlandesa ASML é o único produtor mundial de máquinas que utilizam litografia ultravioleta extrema para fabricar semicondutores avançados.

Em 2023, a China tornou-se o segundo maior mercado da ASML, representando 29% das suas receitas, uma vez que as empresas chinesas compraram equipamento antes da entrada em vigor do requisito de licenciamento.

Pequim tem acusado repetidamente os Estados Unidos de tentarem travar o desenvolvimento económico da China, restringindo o acesso do país a tecnologia avançada. Em resposta, Xi lançou uma campanha para desenvolver ‘chips’ nacionais e outros produtos de alta tecnologia.

“A China opõe-se sempre a que os Estados Unidos alarguem o conceito de segurança nacional e arranjem várias desculpas para coagir outros países a imporem um bloqueio tecnológico contra a China”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, em janeiro.

A ASML ameaçou recentemente abandonar o país devido às políticas anti-imigração adotadas pelo novo executivo.

Geoffrey van Leeuwen disse, esta semana, numa entrevista ao The FD, um jornal económico neerlandês, que a proteção dos interesses da ASML é uma prioridade máxima, mas reconheceu que a segurança nacional vem antes dos interesses económicos.

A NATO e os seus laços crescentes com a Ásia também poderão ser abordados nas conversações desta quarta-feira.

Rutte é um dos principais candidatos à próxima liderança da Aliança Atlântica, uma organização que a China tem criticado por provocar tensões regionais e fazer incursões na região Ásia -Pacífico.

Na declaração que saiu da última cimeira da NATO, na Lituânia em 2023, a organização designou a China como um “desafio sistémico”.

Aprovada pelos líderes dos países-membros da organização, a declaração apontou então que “as ambições declaradas e as políticas coercivas da China desafiam os interesses, a segurança e os valores” da Aliança Atlântica, posição que foi prontamente condenada por Pequim.

Ler Mais