Web Summit: «Não se percebe o culto dos CEO»
No último dia do Web Summit acompanhámos a conversa no palco principal sobre as novas lideranças e os líderes de hoje.
Reuniram na mesma mesa: Yoni Assia, co-fundador e CEO da eToro; Mitchell Baker, co-fundadora e chairwoman da Mozilla; Cristina Sass, co-fundadora da Andela; Jamie lannone, CEO da SamsClub.com e EVP da Walmart; e Mike Butcher, editor da TechCrunch.
À pergunta: Quais são as características que todos os líderes devem ter? Juntaram líderes de quatro grandes empresas. «Um líder tem de moderar muita coisa, ser um mediador e saber a que missões os colaboradores se agarram. A motivação é muito importante. Mas tem de ser mais do que isso. Tem de haver significado no que se quer», começa por responder Mitchell Baker (Mozilla). «Na Andela [empresa africana que desenvolve programadores de software] estamos a crescer e as pessoas trabalham de forma remota, aliás só assim recrutamos talento incrível em África. Para mim, um líder tem de ter um propósito e fazer com que as pessoas se sintam identificadas, para melhorarem as coisas e trabalharem de forma árdua», explica Cristina Sass. A eToro [plataforma global de negociação social] tornou-se uma comunidade muito forte nestes últimos anos. Aconselho que os vossos clientes façam sempre parte do processo da vossa empresa, tanto como os colaboradores», defende Yoni Assia.
Se para alguns líderes o foco deve estar nos clientes, para outros está definitivamente nos colaboradores e em hierarquias horizontais. Na Mozilla, a co-fundadora explica a importância de se seguir uma missão e ser-se consciencioso com os colaboradores, além do produto. «A missão e os objectivos vêm primeiro. Não se percebe o culto do CEO, não é bom para a espécie humana. Mas no meu caso quero seguir em frente, fazer acontecer e fazer passar a natureza da organização». Para a co-fundadora da Andela o mais importante é inspirar as suas pessoas. «Temos de criar constantemente clareza, comunicar e criar e reforçar objectivos. As pessoas têm de acreditar que és competente e tens visão para a empresa». Já o co-fundador da eToro viu a sua empresa ser avaliada recentemente por 800 milhões de dólares, passando de uma startup para uma empresa com escritórios em 20 países em poucos anos. «A magia acontece quando partilhamos informação dentro da empresa, mas mais do que isso quando damos liberdade às pessoas, é assim que aparecem as grandes ideias. Isto porque temos as bases – uma visão definida e uma cultura comum, apesar das diferentes culturas dos colaboradores». «Para termos grandes ideias e acompanharmos a mudança temos de criar bom ambiente e uma cultura de transparência, mas tem de fazer sentido para os teus colaboradores», refere ainda Cristina Sass.
De facto, às vezes nem tudo acontece como gostaríamos e os líderes tomam decisões erradas. Como se previne isso? «Na nossa empresa, não conhecemos os nomes de todos e em muitos casos nunca estaremos fisicamente com eles. Por isso é bom delegar, temos muitas comunidades e não podemos centralizar tudo. Temos de criar um espaço do que é aceitável e do que não é, de forma rigorosa», sublinha Mitchell Baker.«O problema da liderança é mais sistémico. Construímos empresas de forma radicalmente diferente do que acontecia antes. Mas no final, o principal valor deve manter-se: respeitar o indivíduo. Um claro sinal do carácter de um líder é quem promove e quem despede», avança Cristina Sass.
No final, qual é que deve ser então o foco de um líder? «Um líder é um exemplo constante», diz Jamie Ianonne. «Comunicar, comunicar, comunicar», adianta o co-fundador e CEO da eToro. «O mais importante para nós é tomar decisões próximas das pessoas», explica o EVP da Walmart. «Para um CEO ser efectivo no seu trabalho tem de ser verdadeiro com as suas pessoas, preocupar-se com a justiça e a igualdade. Ter em atenção as mudanças climáticas, a pobreza e estar focado na qualidade. Espero que a liderança esteja a mudar, que os trabalhadores façam uso da sua voz e que os bons líderes se preocupem com o planeta», vaticina Cristina Sass.
Texto de TitiAna Amorim Barroso