Von der Leyen já com a ‘faca e queijo’ nas mãos prepara cortes de staff nas delegações diplomáticas da UE

A Comissão Europeia está a considerar uma redução drástica do pessoal nas suas delegações diplomáticas em vários países, redirecionando recursos para regiões consideradas de maior interesse estratégico. A proposta, delineada num documento interno marcado como “SENSÍVEL” e obtido pelo Politico, está a gerar preocupações quanto à perda de influência da União Europeia (UE) em regiões como África e América Latina.

Atualmente, a UE mantém 145 delegações globais que funcionam como embaixadas, mas o objetivo da Comissão é reformar esta rede para priorizar países que estão a candidatar-se à adesão à UE, membros do G20, potências emergentes ou regiões onde a instabilidade pode ameaçar os interesses europeus.

“A UE necessita de uma rede de delegações mais ajustada às novas prioridades políticas e estratégicas, dentro de um contexto orçamental limitado”, lê-se no documento.

A reforma proposta enquadra-se no projeto Global Gateway, a resposta da UE à iniciativa chinesa “Belt and Road”. Segundo um alto funcionário da Comissão, uma reestruturação organizacional é essencial para que a Europa possa competir de forma eficaz na construção de relações estratégicas.

Para reforçar a presença diplomática em áreas estratégicas, Bruxelas considera reduzir significativamente o número de diplomatas em mais de 30 países africanos e em delegações na Ásia e América Latina. Até países de maior relevância, como o Brasil, estão incluídos na lista de cortes.

No entanto, o plano não prevê o encerramento de delegações, mas sim a consolidação de recursos em centros regionais. Segundo o documento, “manter a rede com a cobertura atual é importante”.

A proposta surge numa altura de desafios globais significativos, incluindo a guerra na Ucrânia, tensões no Médio Oriente e a possibilidade de uma nova presidência de Donald Trump, que poderia alterar as dinâmicas internacionais.

A proposta está a enfrentar resistência dentro do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), o braço diplomático da UE. Um funcionário do SEAE admitiu que, apesar das limitações orçamentais, a ideia ainda não está “madura” para implementação.

Outros críticos alertam para o risco de vacúos estratégicos serem preenchidos por rivais como a Rússia ou a China. “Se reduzirmos a nossa presença em locais como o Sudão ou o Níger, estaremos a enviar a mensagem errada, especialmente numa altura em que a administração dos EUA parece menos interessada no mundo exterior”, afirmou um funcionário da UE sob anonimato.

Outra ideia controversa é a criação de um centro diplomático na Índia que também trataria das relações com o Paquistão, dois países com um histórico de tensões severas.

Além disso, a consolidação das delegações diplomáticas da UE com outras entidades, como o Banco Europeu de Investimento e a ECHO (Ajuda Humanitária da UE), está a ser considerada como uma forma de cortar custos.

Se a proposta avançar, quase 800 funcionários locais poderão perder os seus empregos, já que a sua transferência para outros países seria logisticamente difícil ou impossível. Este seria um dos primeiros desafios da nova Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, que assumirá o cargo no próximo mês e terá de lidar com as possíveis demissões em massa.

Pequenos estados-membros da UE, que dependem das delegações europeias para obter informações e estabelecer contactos diplomáticos, também manifestaram preocupação com os cortes.

As recomendações serão discutidas em dezembro por Kaja Kallas e pela nova Comissão Europeia. Peter Stano, porta-voz do SEAE, sublinhou que qualquer decisão estratégica dependerá das orientações da Alta Representante e do Colégio de Comissários.

Entre as vozes críticas, um funcionário da Comissão afirmou: “Estas ideias surgem frequentemente em momentos de vazio de liderança no topo do Serviço de Ação Externa.”

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