Viver em varandas, contentores, garagens ou a 40 km da Universidade: Preços dos alojamentos disparam e deixam estudantes desesperados

Com o início do novo ano letivo, o mercado de alojamento estudantil em Portugal enfrenta uma grave crise, com os preços dos quartos a atingirem valores exorbitantes. Estudantes universitários, em especial os deslocados, lutam para encontrar habitação a preços acessíveis, situação que tem levado muitos a desistirem das suas colocações, enquanto outros aceitam condições de vida precárias e indignas.

Nos últimos quatro anos, o custo médio de arrendamento de quartos para estudantes sofreu aumentos significativos, principalmente nas grandes cidades universitárias. Em Lisboa, onde a procura é mais intensa devido à maior oferta formativa, a renda média subiu de 350 para 480 euros – um aumento de 130 euros. Cidades como Aveiro e Braga também registaram subidas semelhantes, enquanto no Porto o incremento foi ligeiramente menor, de 115 euros, e em Coimbra os estudantes enfrentam um aumento de 60 euros. Estes dados foram avançados pelo Observatório do Alojamento Estudantil.

Estes valores constituem um fardo pesado para os cerca de 175 mil alunos deslocados em Portugal, dos quais 45 mil se encontram em situações de maior fragilidade financeira. As dificuldades não se limitam aos estudantes mais carenciados: muitos outros, incluindo aqueles de famílias da classe média, estão igualmente a braços com o aumento do custo de vida, ao ponto de se verem obrigados a viver em condições degradantes, como varandas adaptadas, contentores pré-fabricados em garagens, ou hostels partilhados com desconhecidos em espaços apertados e sem privacidade.

Mariana Barbosa, presidente da Comissão de Gestão da Federação Académica de Lisboa, destaca o Correio da Manhã que a crise de alojamento vai além daqueles que conseguem um quarto a preço elevado. “Há muitos estudantes que, não conseguindo encontrar alojamento acessível, acabam por viver a 30 ou 40 quilómetros da universidade, passando até quatro horas por dia em transportes públicos”, alertou a dirigente. Este cenário é agravado pela escassa oferta de alojamento público, que apenas disponibiliza quartos para 14% dos estudantes deslocados.

A situação económica dos estudantes em Portugal torna-se cada vez mais precária, não apenas devido ao custo elevado dos quartos, mas também por outras despesas associadas à vida universitária. Com a totalidade das despesas mensais de um estudante – incluindo alojamento, transportes, alimentação e propinas – a poderem ultrapassar os 950 euros, muitos jovens não conseguem fazer face a todos os encargos, mesmo quando optam por trabalhar durante os estudos. O valor médio das rendas acaba por ser superior ao salário mínimo nacional (820 euros), criando um cenário insustentável para muitos.

“A classe média estudantil também se encontra numa posição muito vulnerável. Muitos estudantes não conseguem pagar os estudos e manter-se financeiramente sozinhos”, realça Mariana Barbosa. Além disso, as condições dos alojamentos são frequentemente substandard. “Há apartamentos partilhados por 15 a 20 pessoas, com apenas três casas de banho, o que torna a vida diária um desafio”, lamenta a dirigente estudantil.

Propinas: novo aumento à vista

Como se o cenário atual não fosse suficientemente complicado, o Governo está a ponderar um aumento no valor das propinas universitárias já em 2025. De acordo com as negociações em curso entre o Executivo e os partidos da oposição, que deverão prosseguir nos próximos dias, o agravamento das propinas deverá rondar os 2%, o que se traduz numa subida de 13 euros. Caso a medida avance, a propina anual passará dos atuais 697 euros, congelados desde 2020, para 710 euros.

As federações académicas manifestaram-se contra este aumento, que, apesar de parecer pequeno, terá um impacto direto nas finanças dos estudantes, já fortemente pressionados pelo aumento do custo de vida. Para muitos, este agravamento poderá ser o golpe final numa realidade já marcada por dificuldades financeiras.

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