”Visão do olho de Deus’ observa a 10 km de altitude guerra entre a Ucrânia e Rússia: aviões espiões da NATO detetam todos os movimentos do conflito

Em solo ucraniano há uma luta férrea pela sobrevivência face à invasão da Rússia: no entanto, a 10 quilómetros de altitude, a bordo de um avião de vigilância da Força Aérea Francesa, as paisagens parecem invulgarmente pacíficas – a tal distância, os mortos e as cidades destruídas não são visíveis a olho nu através das nuvens.

No entanto, segundo indicou a ‘Associated Press’, os técnicos militares franceses monitorizam ecrãs com uma visão muito mais penetrante: com um poderoso radar que gira seis vezes por minuto na fuselagem, o AWACS é dotado de uma impressionante quantidade de equipamentos de vigilância, capaz de detetar lançamentos de mísseis, bombardeamentos aéreos e outras atividades militares no conflito.

A ‘AP’ teve acesso a bordo do gigantesco avião do Sistema de Alerta e Controlo Aerotransportado (AWACS), numa missão que transportou 26 militares numa missão de 10 horas desde o centro de França até ao espaço aéreo da Roménia, podendo assim espiar o sul da Ucrânia e o Mar Negro até à Crimeia ocupada pela Rússia.

Em piloto automático, a cerca de 10 quilómetros de altitude, o avião transmite todos os dados recolhidos em tempo real aos comandantes terrestres. A presença sustentada do avião bem acima do leste da Roménia – visto e também a ser visto pelas forças russas – sinalizou o quão intensamente a NATO está a vigiar as suas fronteiras e a Rússia, pronta, se necessário, para agir caso a agressão russa ameace estender-se para além da Ucrânia.

Os voos regulares de vigilância, juntamente com patrulhas de caça, radares terrestres, baterias de mísseis e outro equipamento à disposição da NATO, formam o que o comandante da esquadra francesa AWACS descreveu como “um escudo” contra qualquer potencial repercussão.

O “objetivo final é, obviamente, a ausência de conflito e a dissuasão”, salientou o responsável. “Precisamos de mostrar que temos o escudo, mostrar aos outros países que a NATO é uma defesa coletiva”, continuou. “Temos a capacidade de detetar em todos os lugares. E não estamos aqui para um conflito. Estamos aqui para mostrar que estamos presentes e prontos.”

A recolha de dados da NATO é realizada por uma variedade impressionante de equipamentos de vigilância, incluindo drones UAV não tripulados, mas também os AWACS, que conseguem analisar centenas de quilómetros com os seus radares.

“Podemos detetar aeronaves, UAVs, mísseis e navios. Isso é verdade, com certeza, na Ucrânia, especialmente quando estamos na fronteira”, salientou o comandante francês.

Na missão presenciada pela ‘AP’, o avião detetou um AWACS russo à distância, acima do Mar de Azov, a muitas centenas de quilómetros de distância, no lado oriental da Península da Crimeia. O avião russo também avistou o inimigo: os sensores na fuselagem captaram sinais de radar russos. “Sabemos que eles nos veem, eles sabem que nós os vemos. Digamos que seja uma espécie de diálogo.”
A NATO possui a sua própria frota de 14 AWACS, que podem detetar alvos a voar baixo num raio de 400 quilómetros e alvos a voar mais alto em outros 120 quilómetros – um AWACS pode vigiar uma área do tamanho da Polónia; três podem cobrir toda a Europa Central.

Capazes de voar durante 12 horas sem reabastecimento, os AWACS franceses não estão limitados a missões de vigilância, comunicações e controlo de tráfego aéreo para a NATO. Vão fazer parte da enorme operação de segurança para os Jogos Olímpicos de Paris, neste verão, fornecendo uma vigilância adicional por radar pela ‘visão do olho de Deus’.

Os encontros com os russos nem sempre são amigáveis: em 2022, um caça russo lançou um míssil perto de um avião de vigilância RC-135 Rivet Joint da Força Aérea Britânica que voava no espaço aéreo internacional sobre o Mar Negro, acusou o Governo britânico. Os Rivet Joints são aviões espiões particularmente capazes e, de acordo com Justin Bronk, investigador do think tank de defesa Royal United Services Institute, em Londres, capazes de fazer as autoridades russas “realmente odiar” a sua capacidade de vigilância sobre a guerra na Ucrânia.

Além de reunirem “inteligência em tempo real que teoricamente poderia ser partilhada com parceiros ucranianos”, os aviões também fornecem informações “fantásticas” sobre “como as forças russas realmente operam numa guerra real”, salientou. “Então é claro que os russos estão furiosos.”

A NATO também costuma enviar caças para monitorizar voos russos: em 2022, os aviões aliados voaram mais de 500 vezes para intercetar caças russos que se aventuraram perto do espaço aéreo da NATO: em 2023, o número desses encontros caiu para mais de 300, o que pode ser explicado pelo fortalecimento das defesas aéreas ucranianas. De acordo com a aliança atlântica, “a grande maioria dos encontros aéreos entre a NATO e os jatos russos foram seguros e profissionais” e que as incursões russas no espaço aéreo inimigo foram raras e geralmente curtas.

E em caso de interceção, o que acontece? Segundo a tripulação do AWACS francês, as ordens são para acalmar qualquer tensão. “As nossas ordens devem ser, digamos, passivas”, explicou. “Para um civil, digamos ‘educado’.”

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