Vírus do Nilo em Espanha: Registada a oitava morte naquele que já é o maior surto de sempre da doença no país

A Junta da Andaluzia confirmou a oitava vítima mortal provocada pelo vírus do Nilo Ocidental, igualando assim o número de mortes do maior surto do vírus registado no país, que ocorreu em 2020. A vítima mais recente, um residente da província de Sevilha com patologias prévias, representa um aumento significativo na gravidade deste surto. Com esta nova morte, a preocupação nas autoridades e na população cresce, à medida que o número de infetados ultrapassa os 80, superando os 74 casos registados em 2020.

A propagação do vírus continua a alarmar as autoridades de saúde andaluzas. Nos últimos dias, foram confirmados oito novos casos de infeção em diversas localidades das províncias de Sevilha, Córdoba, Huelva e Cádis. Embora as capturas do mosquito Culex perexiguus, responsável pela transmissão do patógeno, tenham sido negativas em várias regiões, incluindo Sevilha, Málaga e Cádis, detetaram-se insetos em Vejer de la Frontera. A preocupação é crescente nas províncias de Córdoba e Jaén, onde a presença do mosquito foi confirmada em vários municípios.

Recentemente, a Junta da Andaluzia informou sobre a morte de um residente de Villanueva de la Reina, em Jaén, que estava infetado com o vírus, mas cuja morte não foi diretamente atribuída ao patógeno. A mesma situação foi registada em Carmona, com uma mulher infetada que também faleceu, mas cuja causa de morte foi associada a outros fatores, de acordo com a Consejería de Salud. A única vítima fora da Andaluzia foi uma mulher de Navarra, que contraiu o vírus durante uma visita a Utrera, em Sevilha.

A crescente onda de casos e mortes tem motivado uma mobilização cada vez maior da Plataforma Cidadã Contra o Vírus do Nilo, que exige uma melhor coordenação entre as administrações locais e regionais para travar a disseminação do mosquito e a consequente transmissão do vírus. “A situação permanece igual”, lamenta Juan José Sánchez, porta-voz da plataforma, ao El País. A organização tem vindo a realizar várias manifestações públicas, sendo a mais recente em Dos Hermanas, na província de Sevilha. Está ainda planeada uma nova manifestação em frente ao Parlamento Andaluz, numa tentativa de pressionar o governo regional a adotar medidas mais rigorosas.

Segundo Sánchez, os esforços até agora têm sido insuficientes. “Apenas os municípios estão a realizar as fumigações. A Junta precisa de assumir a liderança na coordenação das medidas de prevenção”, critica o porta-voz. A plataforma argumenta que a falta de uma intervenção mais robusta e coordenada entre as diferentes autoridades está a agravar a situação.

Rocío Hernández, nova Conselheira de Saúde da Andaluzia, defende ao mesmo jornal as medidas adotadas pelo governo regional, argumentando que o surto deste ano se distingue pela sua “excecionalidade”. Hernández sublinhou que este é um fenómeno sem precedentes, dado que o vírus foi detetado muito mais cedo do que o habitual, com os primeiros mosquitos infetados a serem registados a 4 de junho. Além disso, numa só armadilha, foram capturados 16.000 mosquitos num único dia, enquanto em todo o ano passado foram contabilizados 55.000.

Durante uma intervenção no Parlamento, a conselheira referiu ainda que nem o Instituto Carlos III de Saúde Pública nem o CSIC conseguiram encontrar uma explicação clara para este surto antecipado e de maior intensidade. Apesar disso, a administração regional comprometeu-se a utilizar a “experiência acumulada” para implementar “melhorias nas ações de prevenção” para o próximo ano, com foco em medidas agrícolas, ambientais e urbanísticas, bem como no avanço da investigação científica.

O presidente da Junta da Andaluzia, Juan Manuel Moreno, também saiu em defesa da atuação do seu governo, salientando que a prevenção da propagação dos mosquitos cabe aos municípios e às freguesias, através de planos de prevenção e fumigação. Por outro lado, a Junta é responsável pela coordenação das medidas de saúde pública e assistência médica. Moreno afirmou que, em outubro, as várias administrações se reunirão para avaliar a situação e preparar o plano de combate ao vírus para o próximo ano.

Apesar das declarações oficiais, os membros da plataforma cidadã estão insatisfeitos com a resposta das autoridades. “Não temos tempo para esperar. Isto é um grave problema de saúde pública que precisa de ser resolvido agora”, alerta Juan José Sánchez. A plataforma não está apenas preocupada com o aumento do número de infetados, mas também com as consequências a longo prazo para os sobreviventes.

De acordo com José Miguel Cisneros, chefe do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital Virgen del Rocío, cerca de 35% dos sobreviventes do surto de 2020 que sofreram encefalite continuam a enfrentar graves sequelas. Entre os infetados deste surto, muitos ainda estão em fase de recuperação, após terem sido hospitalizados com meningite causada pelo vírus. As vítimas denunciam a falta de protocolos claros nos centros de saúde, que muitas vezes não identificam a febre do Nilo como possível causa dos sintomas.

A deteção de mosquitos infetados fora das zonas tradicionalmente afetadas, como no caso de Villanueva de la Reina, em Jaén, evidencia que a transmissão do vírus está a alastrar para além das áreas do Baixo Guadalquivir. Para Jordi Figuerola, investigador da Estação Biológica de Doñana e especialista no vírus do Nilo, a situação atual reflete a ineficácia dos planos de prevenção implementados até agora.

Figuerola salienta que este problema está diretamente ligado à atividade agrícola nas áreas de cultivo de arroz. Ele alerta para o facto de que, após dois anos de seca e paralisia na produção, este ano foram reativadas mais de 100.000 hectares de arrozais sem que tenham sido acompanhados por planos adequados de prevenção da propagação do mosquito.

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