Vinificou uvas que não conseguiu vender alterando estratégia de negócio no Douro

O empresário António Correia transformou em vinho as uvas que não conseguiu vender, alterando a estratégia do seu negócio e ultrapassando um problema que atingiu muitos viticultores do Douro nesta vindima.

As vindimas estão praticamente concluídas no Douro, mas em algumas vinhas ficaram por colher uvas que os produtores não conseguiram vender.

António Correria, com 51 anos e de Santa Marta de Penaguião, também ficou sem comprador para as uvas sem benefício (quantidade de mosto que cada produtor pode transformar em vinho do Porto) e, por isso, decidiu vinificar toda a restante produção colhida nos 10 hectares de vinha.

“Tivemos que ter uma estratégia diferente. Uma crise pode também abrir portas, obriga-nos a ter uma estratégia, obriga-nos a ser autónomos, a criar e a fazer coisas diferentes”, afirmou hoje à agência Lusa.

Em maio recebeu uma carta do comprador habitual das suas uvas que o informava que, nesta vindima, não lhe iria comprar nenhumas uvas.

Procurou outro comprador a quem vendeu as 25 pipas de benefício e fez as restantes cerca de 50 pipas de vinho, no entanto, adiantou que, em 2025, quer vinificar toda a colheita.

“Já estamos preparados, para o ano fazermos também todo o vinho do Porto”, garantiu.

António Correia disse que já vinificava uma parte das uvas e que o vinho era vendido no hotel que possui na Cumieira, naquele concelho do distrito de Vila Real.

“Agora rentabilizamos aquilo que temos”, salientou, frisando que é preciso “saber dar a volta”.

Há anos que diz que alerta para problemas no Douro e, por isso, contou que se foi preparando para a crise que se estalou no ano passado e que se intensificou nesta vindima.

“Não foi fácil, foi um mês e pico de vindima atípica, mas com qualidade e a postura de sempre, de lutarmos. Não podemos estar a chorar ou estar à espera de um subsídio. Nós não somos gente de subsídios, somos gente de trabalho, andamos com as mãos sujas”, afirmou.

Para além da adega e de lagares tradicionais de granito e xisto, onde está a fazer um vinho de homenagem ao avô, investiu também numa destilaria.

“Podemos fazer o que quisermos. O que tivermos em excesso vamos, de certeza, fazer uma boa aguardente vínica, coisas nossas que vamos, agora, misturar com o nosso vinho do Porto e também temos outras bebidas que vão sair”, referiu.

Exemplificou com outros produtos, como as grainhas das uvas que são usadas para fazer óleos essenciais, apontando para a possível criação de uma marca de cosméticos que podem ser usados no spa da unidade hoteleira, ou com as folhas das videiras que são usadas para o gin.

“Reinventamos o Douro”, sublinhou, acreditando na rentabilidade da nova estratégia assumida.

Na sua opinião, a falta de mão de obra é também um grave problema no Douro, que aumenta os custos de produção na mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo.

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